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Para fora do/a Euro(pa) já!

A Europa é uma violência. Uma incubadora de credenciados indignados. Portugal (vai) sai(r) da Europa como entrou. Na violência da penúria. Portugal está descalço. O país está sem projeto.
Que saia ao menos, não como entrou. Que saia pelo próprio pé. Portugal deve ser violento com (est)a violência. Deve liderar a derrocada d(est)a Europa. Portugal está obrigado à sua reinvenção; à sua refundação. Foi letal proibir pensar Portugal para além da Europa. Portugal nunca esteve na Europa. Jamais fomos europeus. Jamais somos europeus. Portugal foi e é mitómano. Não se importou em continuar a ser uma colónia informal.
Não resolveu os seus embaraços históricos. Viveu e produziu-se nesse falso vazio. O país produziu-se como não existente. Fabricou realidades como não existentes. Não se importou com o preço da paz violenta. Para Portugal só a violência é(ra) violenta. Para os violentos a violência não é violenta. Portugal conseguiu ser cultural e ideologicamente cínico. Portugal ignora/ou que o real estoirou nu na realidade. Portugal é violento porque não percebe que não pode ser violento. Portugal foi substantivo no descalabro da União Europeia. Deliciou-se com o fim da história. Encantou-se com o fim das ideologias. Portugal foi a falsa terceira via. Portugal ignorou que só se destrói a ideologia ideologicamente. Nunca ponderou que ao correr contra a historia a ressuscitava. Portugal percebeu tarde que o Euro não é europeu. O país não quer perceber que esta não é só a crise do capitalismo. Claro que não. Este não é só o fim deste capitalismo; é a crise dos que sempre quiseram ser capitalistas e nunca conseguiram; é a crise dos que não podem deixar de ser capitalistas; é o capitalismo que precisa de mais capitalismo que o país não tem para dar; é a crise que o país foi matreiramente adiando. Portugal adormeceu com o escudo e acordou com o euro. A um e a outro, o mesmo entregou. Zarpará deste como o fez com aquele. Não percebeu os perigos de culpabilizar as utopias. Era proibido ser português. A Europa não tem presente. Urge sim rasgo. Rasgo para liderar o desmantelamento d(est)a Europa. O mundo olha-se com inquietação. Aqui o ato é de desocupação. Para fora do/a Euro(pa) (para), já, rápido e pelo próprio pé. Portugal precisa de um projeto para si e para o mundo. Esta é a compensação.

João M. Paraskeva
jparaskeva@umassd.edu


  
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Edição:

Edição N.º 199, série II
Inverno 2012

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