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As mentiras, as meias-verdades e realidades penosas

1 - No comício do partido do governo o menos socialista dos governos da facção que estiveram no poder realizado no pretérito dia 20 do mês de Setembro no Pavilhão Multiusos de Guimarães, o primeiro-ministro afirmou que "o governo tinha orgulho em ter Lurdes Reis Rodrigues como ministra da educação". Convenhamos que é um orgulho muito descabido, frouxo e baço. Para não lhe chamar ridículo. Esta, por sua vez, quando usou da palavra, para entreter papalvos, debitou algumas frases virtuais tipo Second life pretensamente ilustrativas das grandes "reformas" que a timoneira está a levar a cabo na educação contribuindo, sem dúvida, para o bem-estar, alegria incontida e felicidade a rodos que perpassa na classe docente. Que só falta limpar o cu aos meninos e colocá-los a fazer chichizinho...

2 - Porque se os professores ainda têm o sortilégio de depararem nas suas turmas com alunos esmeradamente educados, cumpridores e empenhados estão longe de serem alunos provenientes de famílias com determinado status sócio-económico (por vezes estes ainda são os piores), que potenciam o prazer do acto de ensinar e transmitir conhecimentos, numa inter-relação agradável e profícua, infelizmente e desgraçadamente, os docentes também têm de arrostar com alunos arruaceiros, selvagens, insolentes, violentos, autênticas bestas sem educação de espécie alguma (nem a querem interiorizar).
Juntem-se os alunos com graves e variados défices mentais e psíquicos, mais os alunos oligofrénicos e teremos salas de aulas onde os professores se sentem plenamente realizados... Toda esta "paisagem" estrutura a designada escola inclusiva, ou, mais modernamente, a "escola charneira"... E desestrutura, como não pode deixar de ser, a sanidade mental e o equilíbrio psíquico, físico e emotivo do professor. Que tem de suportar tudo isto. Inclusive a ministra com a sua visão panglossiana da educação. Bem hajam os professores que se reformaram (mesmo tendo sido penalizados) ou os que têm oportunidade de mudar de vida!...

3 - Estou na sala de professores. Hoje, dia 25 de Setembro, chamam-me para uma profícua e audaciosa aula de substituição. Obedeço, humildemente, à chamada do contínuo(a) - (agora dignos auxiliares de educação). Como professor da área das letras julgo que vou substituir um(a) colega da mesma área disciplinar. Ou afim. Que não. Vou é substituir um professor(a) de Educação Musical! Ou seja, vou dar "música" a quem não a tem. Entrando na sala de aula os alunos entoam, cantando, "que ainda não têm professor(a) de Educação Musical desde que principiaram as aulas e porque razão ainda não o têm". Eu, enchendo o peito "à Pavarotti" e dedilhando à Mark Knopfler trauteio dizendo que a Dª Lurdes é que sabe. Então as aulas não começaram "a tempo e horas" e os professores não estão todos colocados?
Em muitas escolas deste país, muitas turmas ainda não têm professores de Matemática, Ciências da Natureza, Educação Física!... E não têm os manuais respectivos das disciplinas e doutras, igualmente. Mas têm o "Magalhães", catano! E mais vale o "Magalhães" do que livros a faltarem e professores a desesperarem! Escutando a timoneira tudo vai bem. Como é bom viver na Second life, como é bom ocupar os professores com inútil papelada, com lateralidades, com funções acessórias e como são atractivas e resplandecentes as "aulas de substituição"...

António Cândido Miguéis


  
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Edição:

N.º 183
Ano 17, Novembro 2008

Autoria:

António Cândido Miguéis
Professor
António Cândido Miguéis
Professor

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