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Crise financeira traz as teorias de Maynard Keynes de novo à voga

PARIS, 21 Outubro 2008 (AFP)

A crise financeira trouxe para a mesa de discussões as ideias do economista britânico John Maynard Keynes - como a necessidade de uma regulação dos mercados e das políticas de reactivação de investimentos e de grandes obras públicas - que vinham sendo condenadas pelos gurus do neoliberalismo desde os anos 80.
Keynes (1883-1946), um dos economistas mais influentes do século XX, autor da "Teoria geral do emprego, do juro e da moeda", preconizava a necessidade de regular o capitalismo sem comprometer a autonomia das empresas, pois rejeitava a ideia da auto-regulação dos mercados.
"Keynes construiu a sua teoria a partir da hipótese de que os mercados sofriam de disfunções e que, para manter a economia capitalista, era preciso a intervenção pública", comentou Jean-Paul Fitoussi, presidente do Observatório Francês de Conjunturas Económicas (OFCE). "Hoje temos uma disfunção maior dos mercados e, por isso, a intervenção pública foi naturalmente maciça", afirmou Fitoussi à AFP.
Keynes receitava, em épocas de crise, injecções maciças de liquidez por parte do Estado e cortes das taxas de juros para impulsionar o investimento. Também aconselhava incentivar a procura mediante um incremento dos investimentos públicos e uma mais justa redistribuição da riqueza a favor das classes com menores recursos. Desconcertados com a crise os gabinetes ministeriais voltaram a lançar mão destas receitas.
O ministro britânico das Finanças, Alistair Darling, anunciou em 19 de Outubro a intenção de aumentar o gasto público através de projectos de grande envergadura, principalmente nas áreas da construção, energia e nas pequenas e médias empresas. O presidente da Associação para o Desenvolvimento de Estudos Keynesianos, Edwin Le Heron, advertiu, no entanto, sobre o risco de uma reactivação meramente conjuntural, que "cairia no vazio". "É preciso separar as coisas. Por um lado, há quem peça para voltar a regular o capitalismo, a mudar a estrutura do capitalismo; por outro, há quem diga que se trata de uma política de reactivação da economia real, com planos meramente conjunturais", assinalou. "Ambos podem parecer 'keynesianos', mas eu penso que 'keynesiano' é uma reforma estrutural do capitalismo", afirmou Le Heron.
Le Heron acredita que o anúncio de uma série de cimeiras internacionais para reformar o sistema financeiro vai nesse sentido, mas que "a janela de oportunidades é muito estreita", pois os Estados Unidos são reticentes a reformular o sistema definido em 1944 pelos acordos de Bretton Woods, centrados no modelo americano.
Fitoussi, mais optimista, acredita que actualmente todos os países buscam uma boa regulação, pois "ainda ninguém se livrou da crise". Mas isso não impede as divergências sobre a maneira de realizar essas reformas, como se vê na União Europeia.
"A Europa foi capaz de criar um plano da zona euro e a União Europeia conseguiu depois chegar a um acordo sobre um plano global de apoio bancário. Isso implica que os países europeus podem colocar-se de acordo sobre um plano global de regulação dos mercados", afirmou Fitoussi.
Nesse sentido, Nicolas Sarkozy, presidente francês e presidente em exercício da UE, pediu a 21 de Outubro para se criar um "governo económico" para a Zona euro e criar fundos soberanos para investir em sectores estratégicos.

AFP


  
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Edição:

N.º 183
Ano 17, Novembro 2008

Autoria:

AFP
Agence France-Presse
AFP
Agence France-Presse

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