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"Simón Trinidad" o guerrilheiro que se formou na universidade de Harvard e foi gerente de banco

Ricardo Palmera, conhecido como 'Simón Trinidad', condenado hoje [28 de Janeiro] nos Estados Unidos a 60 anos de prisão, é um ex-bancário graduado em Harvard, que há 20 anos deixou o mundo das finanças para pegar em armas e tornar-se um dos representantes da ala mais radical das Forças Armadas Revolucionárias Colombianas (Farc). Trinidad é também o membro da mais alta classe da guerrilha das Farc extraditado e julgado nos Estados Unidos. Em 9 de Julho passado ele foi considerado culpado de conspiração no sequestro de três americanos: Thomas Howe, Keith Stannsen e Marc Goncalvez, detidos na selva colombiana desde 2003 quando o avião em que realizavam operações antidrogas caiu numa zona de influência rebelde no sul da Colômbia.
Outro julgamento por tráfico de drogas foi anulado, em Outubro, por um juiz americano, depois de o júri não ter conseguido chegar a uma conclusão unânime sobre o veredicto. As Farc incluíram Trinidad na lista de guerrilheiros presos que esperam trocar por 44 reféns em seu poder, entre eles os três americanos e a cidadã colombiano-francesa Ingrid Betancourt.
Palmera nasceu há 56 anos na cidade de Valledupar, no seio de uma família abastada, e estudou economia e administração em Bogotá, concluindo a pós-graduação em finanças na celebrada Universidade de Harvard nos Estados Unidos da América. Durante a década de 80 trabalhou como gerente do Banco do Comércio em Valledupar, cargo do qual, segundo as autoridades, se aproveitou para passar informações importantes às Farc sobre empresários e comerciantes susceptíveis de serem sequestrados ou extorquidos.
Em 1987 ingressou nas Farc onde passou a ser chamado de Simón Trinidad em homenagem ao libertador Simón Bolívar. Os seus bons e amplos conhecimentos em finanças e o seu nível intelectual permitiram-lhe ascender rapidamente na hierarquia da organização, na qual foi designado como comandante do Bloco Caribe que opera no norte do país.
Ao mesmo tempo, consolidou a sua posição como chefe de finanças das Farc.
Como comandante do Bloco Caribe é acusado de ser o autor intelectual do sequestro e assassinato, em Setembro de 2001, da ex-ministra da Cultura, Consuelo Araújonoguera. Durante o frustrado processo de paz com o governo do então presidente Andrés Pastrana (1998-2002), as Farc designaram-no como um dos seus porta-vozes na mesa de negociação, onde se caracterizou como fazendo parte da linha dura oposta à negociação. Capturado em Quito (Peru), foi enviado para a Colômbia em Janeiro de 2004, onde enfrentava pelo menos 59 acusações, a maioria por sequestro, rebelião e tráfico de drogas.
No momento da sua captura era um dos 31 membros do chamado Estado Maior Central da principal guerrilha colombiana. Durante um ano esteve detido na Colômbia e o presidente Álvaro Uribe ordenou a sua extradição, que se tornou efectiva em 31 de Dezembro de 2005, depois de as Farc rejeitaram uma proposta de trocar 'Trinidad' e outros rebeldes por alguns dos reféns em poder das Farc colombianas. A sentença agora ordenada poderá reforçar o peso de ?Trinidad? em negociações futuras tendo em vista a troca de prisioneiros entre o governo e a organização rebelde.

AFP


  
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Edição:

N.º 175
Ano 17, Fevereiro 2008

Autoria:

AFP
Agence France-Presse
AFP
Agence France-Presse

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