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Uma humanidade mais carnívora: risco para a saúde e para o meio ambiente

O consumo de produtos animais, que deverá aumentar em 50 por cento até 2020, segundo a Organização Mundial para Saúde Animal (OIE), acarreta grandes riscos sanitários e coloca em perigo os ecossistemas, salientam especialistas consultados pela AFP.
O aumento do consumo de carne à escala planetária ocorre sobretudo nas economias emergentes, tendo a China e a Índia como principais consumidores, e traduz-se no comércio cada vez maior de produtos animais.
"Há riscos sanitários complementares, porque os produtos circularão mais rapidamente que o tempo de incubação das doenças", constata Jean-Luc Angot, director-geral adjunto da OIE. Entre os factores de surgimento ou ressurgimento de novas patologias, há também o aquecimento global, a modificação dos ecossistemas ou a mudança de hábitos alimentares.
"A febre catarral ovina (ou doença da língua azul) surgida em regiões onde não era conhecida anteriormente, como no norte da Europa, era considerada até então tropical", lembra Angot. A destruição dos ecossistemas expõe o homem e os animais ao surgimento de novos agentes patogénicos. No final dos anos 90, o desmatamento na Malásia fez sair das florestas os morcegos frugívoros que contaminaram os porcos, levando à erradicação de muitas varas de porcos e provocando 300 mortes humanas.
As febres hemorrágicas como o Ebola também estão ligadas aos contactos entre o macaco e o homem devido ao desmatamento na África.
Em relação aos hábitos alimentares, o vírus da SIDA poderia ter contaminado o homem ao cruzar a barreira da espécie por causa do consumo de carne de macaco, segundo uma hipótese que ainda não foi cientificamente provada.
O aumento do número de aves aumenta o risco de um vírus da gripe das aves passar por mutações para ser transmitido eficazmente de homem para homem, o que não parece felizmente ser o caso da estirpe H5N1.
De maneira geral, "o desenvolvimento de criações industriais no
Sudeste Asiático, na China e na Índia, às portas das cidades cria problemas de hiperconcentração, de não-gestão de dejectos, de riscos sanitários", constata André Pfimlin, director de pesquisa e desenvolvimento do Instituto de Criações em Paris. No final de 2006 a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) calculou num relatório que os bovinos produzem mais gases causadores do efeito estufa que os carros. O metano que expelem e o protóxido de nitrogénio dos seus dejectos são muito mais nocivos para o meio ambiente que o CO2.
Este relatório também colocou em evidência que grande parte dessas emissões provinham de criações pastoris, praticadas por populações muito pobres do Sahel ou da Ásia Central que dependem do gado para sobreviver. A margem de manobra é pequena para que se possa reduzir as emissões de metano, mas "se todos os sistemas de criação optimizarem os seus dejectos, os seus adubos, ganharão em dinheiro e reduzirão o risco de poluição para a água e para o ar", segundo Pfimlin.
Nas zonas tropicais, a produção de carne reduz também os "poços de carbono" (que reúnem CO2 na vegetação). "Quando queimamos a floresta, no Brasil, na América Central, e também na Indonésia, fazemo-lo muito frequentemente para criações de gado e também para plantações de soja" que servem para alimentar os porcos e as aves, explica este especialista.

AFP


  
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Edição:

N.º 175
Ano 17, Fevereiro 2008

Autoria:

AFP
Agence France-Presse
AFP
Agence France-Presse

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