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Concepção de criança: uma intersecção entre Piaget, Vygotsky e Wallon

Neste texto, sintetizamos a concepção de criança de Piaget, Vygotsky e Wallon. A criança conhece da mesma forma que o adulto, ou seja, a ação exterior ou inteiramente interior, provocada pela necessidade, mesmo elementar, evoca o aprendizado. A percepção de um mesmo objeto evoca diferentes perguntas em uma criança, incapaz de classificar e em outra com mais idade, que pense de forma mais ampla e mais sistemática. (PIAGET, 1995: 14). Os interesses dependem das noções adquiridas e das disposições afetivas, que melhoram o equilíbrio cognitivo. O equilíbrio e desequilíbrio correspondem ao movimento intelectual entre sujeito/objeto. Assimilações e acomodações organizam o cognitivo, ampliam os esquemas, no plano da ação e depois no psicológico, inicialmente em desacordo com o nível intelectual do adulto.
A interação se dá através do outro mais experiente. A criança inclui estímulos ausentes do seu campo visual imediato, suas operações práticas são menos impulsivas e espontâneas do que as de chimpanzés, com a fala planeja, executa algo visível, assim, age num processo psicológico complexo, usando o signo, uma atividade especificamente humana. (VYGOTSKY, 2005: 43). A criança vendo e ouvindo ativa conexões novas no cérebro, apropria-se oralmente da língua materna, internaliza práticas sociais, manipulando a fala e outros instrumentos culturais, imita a análise intelectual, processo inter-pessoal, mesmo não a compreendendo completamente. Imitativamente inicia sua cognição, coloca seu pensamento num quadro de relações culturais. Nesse sentido, o biológico e o cultural, não são da mesma ordem, mas constituem uma história personalizada, construída de forma e em escala cronológica diferente, dadas as possibilidades de acesso aos instrumentos sociais.
A criança vivencia processos descontínuos, marcados por contradições, conflitos. Os estágios do seu desenvolvimento marcam-se por características específicas, demarcadas nitidamente, passam por sobreposição, mistura, confusão, numa ordem necessária, num ritmo descontínuo. (WALLON, 1981: 47). Nesse entendimento, o cognitivo e o afetivo marcam a atividade intelectual. O crescimento biológico traz progressos, as revoluções de idade, chorar, sorrir, movimentar-se, jogar, manifestações peculiares a infância que dão passagens para outros comportamentos, novas aprendizagens.
A linguagem é preponderante no desenvolvimento, permite representar a ordem mais insignificante de uma seqüência, organizar um discurso, não é a causa do pensamento, mas um suporte indispensável ao seu progresso. A representação é possível pela linguagem, com ela opera-se sobre o ausente, adentra-se o mundo dos signos, ampliando o pensamento, unindo e separando. (WALLON, 1981:186). Esse processo é permeado pela dificuldade, conflito, crises de auto-afirmação, oposições, que finalizam a infância e evocam a puberdade.
Finalmente, nessa intersecção, Piaget (1995) fala de um sujeito epistêmico que tem a ação como manifestação inicial da inteligência. Vygotsky (2005) considera a pessoa um sujeito social que significando transforma valores culturais, é transformada, cria e recria cultura. Wallon (1981) diz ser a repetição, ludicidade e investigação elementos prazerosos e que favorecem, via de "assimilação ou confusão adaptada", o aprendizado, sua criança é geneticamente social.

Referências bibliográficas:

  • PIAGET, Jean. Seis estudos de psicologia. Tradução: Maria Alice Magalhães D'amorim e Paulo Sergio Lima Silva. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1995. 
  • VYGOTSKY, L.S. Pensamento e linguagem. Tradução: Jefferson Luiz Camargo. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005. 
  • WALLON, Henri. A evolução psicológica da criança. Lisboa: Edições 70, 1981.

Francisca Maria Gomes Cabral Soares


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 175
Ano 17, Fevereiro 2008

Autoria:

Francisca Maria Gomes Cabral Soares
Professora da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte UERN / BRASIL Mestranda da Universidade Federal do Rio Grande do Norte PPGED / UFRN/ BRASIL fcacabral@bol.com.br
Francisca Maria Gomes Cabral Soares
Professora da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte UERN / BRASIL Mestranda da Universidade Federal do Rio Grande do Norte PPGED / UFRN/ BRASIL fcacabral@bol.com.br

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