Página  >  Edições  >  N.º 175  >  A China aqui tão perto

A China aqui tão perto

A R.P. China, fundada em 1949, tem conduzido nos últimos trinta anos uma política sustentada de desenvolvimento do seu sistema de ensino superior.
Existem hoje cerca de 4000 instituições, frequentadas por perto de 15 milhões de estudantes (que têm capacidade para admitir 15% da população na correspondente faixa etária). O que não é ainda um desempenho excepcional por padrões dos países da OCDE, porém dada a dimensão do país, representa uma taxa de frequência e de formação muito importante no contexto mundial.
Em vista do esforço que vem sendo realizado, o governo não hesita em recorrer generosamente a recursos próprios, como também aos apoios da UNESCO e do Banco Mundial; e as instituições a recrutar professores e investigadores no estrangeiro, quer atraindo profissionais chineses a trabalhar no estrangeiro, quer atraindo profissionais de outras nacionalidades. Para o sucesso desta política de expansão, o governo cria novas universidades, facilita os procedimentos administrativos, e investe em elevadas remunerações e modernos meios de trabalho.
O governo conduziu uma avaliação nacional do sistema de ensino superior em 1994 e de novo em 2007. Da primeira decorreu a massificação da oferta de ensino e a opção de criar universidades de elite mundial com forte conteúdo de actividade científica. Assim, o governo decidiu promover dez das universidades públicas a nível de "classe mundial", as duas primeiras das quais Peking e Tsinghua. Novas orientações políticas, que se aguardam com expectativa, são de esperar como consequência da última avaliação.
O que se passa com o sistema de ensino superior na China é uma questão de interesse mundial. Os EUA e a UE (em particular o Reino Unido) foram no passado pólos de atracção de estudantes e profissionais altamente qualificados oriundos da Ásia. A "fuga de cérebros" foi identificada como uma forma de exploração neo-colonial. Ora a situação tem mudado nas décadas recentes, quer por intensificação dos fluxos inversos (de estudantes e profissionais asiáticos, do Ocidente para o Oriente, e mesmo de estudantes e profissionais Ocidentais), quer por uma forma de globalização que se manifesta na constituição de parcerias internacionais ou no estabelecimento de pólos de universidades estrangeiras em território chinês (sobretudo da Austrália e Reino Unido). Estas mudanças servem interesses económicos e culturais mas também confluem para a qualificação da força de trabalho da R.P. China.
O caso da R.P. China surge após o caso de outros países Asiáticos que atingiram notável desenvolvimento económico em décadas precedentes (mormente o Japão), mas que não dispõem de recursos humanos e materiais em escalas comparáveis. Também se distingue da Índia que, detendo potenciais comparáveis, todavia não tem prosseguido políticas tão determinadas e consequentes. O caso da China merece ainda referencia porque não tem alienado a língua oficial nacional, que tem sido mantida e até expandida, sem prejuízo da expansão do Inglês também.
Bertil Andersson, director cessante da Fundação Europeia de Ciência e vice-presidente cessante da EURAB (conselheiro da Comissão Europeia para a política da investigação científica da União) irá agora ocupar um cargo dirigente na Universidade Tecnológica de Nanyang, em Singapura (cuja língua oficial é o Chinês). Ele afirmou que a sua partida não significa desinteresse pela Europa, e rejubilará quando o Espaço Europeu da Investigação for finalmente uma realidade; e adicionou: «Porém as coisas mexem de forma incrível na Ásia. Investimentos quer públicos quer privados consideráveis são consagrados à investigação. Optei por um cargo que me permite viver de perto esta "revolução asiática". A mobilidade para um cientista é uma via necessária para a formação ao longo da vida.» Podemos ficar na dúvida se estas frases utilizaram o "calão" oficial da Comissão Europeia para fazer ironia ou por assumida convicção. Mas o certo é que este alto responsável por pôr de pé o anunciado Espaço Europeu da Investigação (no quadro da quase esquecida "Estratégia de Lisboa" de 2000) reconhece o sentido principal das mudanças em curso e nelas quer ser parte mais activa (e com remuneração mais atraente).

http://www.moe.edu.cn/english/higher_h.htm
http://www.atimes.com/atimes/China/HL21Ad01.html
http://www.higher-edge.com/docs/APR2003.China.pdf
http://ec.europa.eu/research/research-eu/53/article_5316_fr.html
http://www.ntu.edu.sg/publicportal/

Rui Namorado Rosa


  
Ficha do Artigo
Imprimir Abrir como PDF

Edição:

N.º 175
Ano 17, Fevereiro 2008

Autoria:

Rui Namorado Rosa
Univ. de Évora
Rui Namorado Rosa
Univ. de Évora

Partilhar nas redes sociais:

|


Publicidade


Voltar ao Topo