Cerca de 130 países participaram numa conferência em Viena para proibir, já no fim de 2008, a utilização mundial das mortíferas bombas de fragmentação, que fazem vítimas quase que exclusivamente civis (98%) e sobretudo crianças. "É um sinal claro de apoio ao nosso objectivo", salientou a ministra austríaca das Relações Exteriores, Ursula Plassnik, durante a cerimónia de abertura da conferência, ao receber uma petição com um milhão e meio de assinaturas procedentes de todo o mundo para a proibição destas armas. Organizada pela Áustria e os responsáveis pela «Coligação Contra as Bombas de Fragmentação» (CMC, Cluster Munition Coalition), esta conferência inscreveu-se no processo de Oslo, lançado em Fevereiro pela Noruega. Assim como o processo de Ottawa, que levou há 10 anos à aprovação do tratado de proibição das minas terrestres, a meta do processo de Oslo é permitir a instauração de um tratado proibindo até o fim de 2008 estas armas que, quando explodem, espalham num raio de vários quilómetros outros artefactos equivalentes a minas terrestres que podem explodir muitos anos depois. Tais bombas ainda são utilizadas no Iraque, e foram usadas durante a guerra no Líbano no ano passado. Elas continuam a fazer vítimas civis no Laos - 208 milhões de bombas de fragmentação foram utilizadas pelas tropas americanas entre 1969 e 1973 - no Afeganistão e nos Balcãs, muitos anos depois de terem sido lançadas pelos militares em guerra. De acordo com a CMC, pelo menos 34 países ainda fabricam este tipo de armas, e pelo menos 75 ainda possuem importantes estoques no seu território. A Áustria, anfitriã da conferência, depois das de Oslo em Fevereiro e de Lima em Maio, tornou-se em Dezembro o segundo país, depois da Bélgica em 2005, a proibir por lei a utilização, a venda e a armazenagem destas armas. O ministro da Defesa, Norbert Darabos, prometeu destruir as cerca de 12.000 bombas deste tipo armazenadas na Áustria dentro de um prazo de três anos. Varias vítimas deste tipo de armamento foram a Viena para prestar depoimento. Sladan Vuckovic, um sérvio que perdeu os dois braços e parte das pernas ao tentar retirar as bombas deixadas num seu terreno, lembrou que "todos os tipos de bombas de fragmentação são mortíferas, independentemente do seu nível de sofisticação". Militante dos direitos humanos há muitos anos, Bianca Jagger, ex-mulher do cantor dos Rolling Stones, felicitou a Áustria pela sua iniciativa de proibir estas armas e exprimiu a esperança que "outros países lhe sigam o exemplo". Os grandes países produtores como a Rússia, China e Estados Unidos não querem um tratado para proibir mundialmente este tipo de armamento. Outros países, como a Alemanha e a França, desejam incluir isenções na primeira versão do tratado, redigida em Maio passado em Lima. Uma nova conferência está prevista em Wellington, na Nova Zelândia, para Fevereiro de 2008, e uma reunião final está marcada para Maio em Dublin. A ideia é assinar o tratado até ao final de 2008. O envolvimento de professores e alunos na exigência de que os seus governos proíbam, e contribuam para a proibição, deste tipo de armamento é fundamental.
AFP
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