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Aumenta o peso do capital das máfias na economia global

A Itália está alarmada com o peso do dinheiro da máfia na economia da Europa e pede medidas para deter o fenómeno, que tem crescido notavelmente com a globalização, advertiu o presidente da comissão antimáfia do parlamento do país, Francisco Forgione.
Em entrevista à AFP, Forgione reconhece que "o dinheiro sujo proveniente de actividades criminosas é investido em actividades legais em toda a União Europeia, e que os lucros dessas actividades são também administrados pela máfia".
Após um ano como presidente da comissão, o deputado considera crucial que os países europeus fomentem a vigilâncias dos circuitos financeiros. Para esse controle, a Itália e a Alemanha assinaram em Dezembro um acordo de cooperação para reforçar a vigilância sobre o crime organizado italiano que actua na Alemanha. O acordo foi firmado quatro meses depois do assassinato em Agosto de seis supostos membros da máfia 'Ndrangheta', de Calábria (sul), na cidade de Duisbourg, oeste da Alemanha.
As organizações mafiosas italianas ? Ndrangheta, máfia siciliana e camorra napolitana ? tornaram-se actualmente verdadeiras holdings económico-financeiras que utilizam e fomentam a globalização. O volume de negócios de tais organizações, calculado recentemente em 90 mil milhões de euros pode chegar a "entre 100 a 150 mil milhões de euros", segundo o parlamentar.
Tudo isso graças ao "dinheiro sujo provindo do tráfico de drogas e de armas, do comércio de resíduos tóxicos, do tráfico de pessoas e das extorsões", sustenta Forgione, do partido Refundação Comunista. "Quando digo droga, refiro-me à cocaína proveniente da América Latina, que é uma das maiores fontes de parte dessa riqueza", assinala.
Para legalizar essas grandes somas, a máfia investe, por exemplo, em sectores como obras públicas, turismo, construção de urbanizações, centros comerciais e, sobretudo, em investimentos nas principais bolsas mundiais. A legislação dos países não está preparada para contrariar os investimentos económicos provindos do crime, pelo contrario. Todo o investimento é aplaudido.
Forgione denuncia ainda a "burguesia mafiosa", de colarinho branco, composta por advogados, corretores da bolsa, especialistas em finanças e em marketing, políticos e funcionários públicos: "sem eles, o dinheiro sujo não pode ser limpo", afirma.
Ao mesmo tempo que esta denúncia era feita pelo deputado Forgiore, a UNICRI [ entidade especializada da ONU em investigação criminal] apresentava em Turim um relatório onde se afirma que as máfias de todo o mundo têm vindo a transformar as imitações e falsificações numa das maiores "indústrias para as massas". "O crime organizado representa hoje em dia uma parte importantíssima do mercado das imitações e emprega as mesmas rotas e meios do tráfico de droga, armas e seres humanos", afirma-se neste relatório.
O negocio das imitações é altamente lucrativo. Uma cópia de um produto informático que fique por 0,20 centavos de euro é vendido facilmente por 45 euros, lucro superior ao da droga [o custo de1,52 euros de marijuana dá de lucro 12 euros].
O relatório adianta ainda que a industria das falsificações faz perder na Europa, pelo menos, uns 100.000 empregos por ano.
Um dos problemas candentes da actualidade é saber se a economia global seria capaz de sobreviver sem as injecções de capital provenientes da economia desenvolvida pelas organizações criminosas.

José Paulo Serralheiro
AFP


  
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Edição:

N.º 174
Ano 17, Janeiro 2008

Autoria:

José Paulo Serralheiro
Professor e Jornalista. Director do Jornal a Página da Educação.
AFP
Agence France-Presse
José Paulo Serralheiro
Professor e Jornalista. Director do Jornal a Página da Educação.
AFP
Agence France-Presse

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