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A dimensão teórica e prática do ensino actual

Sobre as relações entre a teoria e a prática,  disse o reitor da Academia de Lyon, no já distante ano de 1855: ?Nos nossos dias, e isto será uma glória da nossa época, estas duas forças que movem o mundo, a teoria e a prática [a ciência e a técnica] avançam finalmente de um modo concertado, aproximando-se mais e mais de dia para dia sem nada perder do seu carácter essencial e tendem, enfim, a unir-se para se completar uma à outra. A velha barreira que se erguia entre o pensamento e a sua realização exterior está derrubada...?. Cento e cinquenta anos depois o que nos mostra a nossa realidade educativa? Onde está esse abraço apaixonado, vigoroso, entre a teoria e a prática?
Hoje em dia, mais do que nunca, é descabida a separação entre a teoria e a prática. O nosso sistema escolar está, nesse sentido, completamente ultrapassado. Ele continua a ser um ensino puramente abstracto, filho do manual, desinteressado da realidade, escapando ao sentido dos professores e alunos. Ora, ninguém aprende se não der sentido ao que aprende. Aprender é dar sentidos.
Não faz sentido o que hoje se passa no ensino secundário. A separação dos cursos gerais dos cursos tecnológicos é uma aberração. A valorização de uns e a desvalorização dos outros é uma ofensa à inteligência. A política que encaminha «os melhores» para os cursos gerais ? e daí para a universidade ? e «os piores» para os cursos tecnológicos e profissionais, é um crime educativo. Este dualismo tem de ser ultrapassado. Todo o ensino secundário deve ter o mesmo respeito pelo  conhecimento seja qual for a sua natureza. E deve ter a decência de respeitar todos os alunos, sejam quais forem as suas escolhas.
Todo o aluno, após o ensino secundário, deve poder optar: continua de imediato os estudos; procura o mercado de trabalho e não volta ao sistema regular de ensino; procura o mercado de trabalho e, mais tarde, volta ao sistema regular de ensino. Cabe ao sistema organizar-se para responder aos diferentes tipos de procura.
Pense-se num sistema de ensino com duas componentes: a escolar e a social. Aceite-se que os professores, sem prejuízo para a sua carreira, possam ao longo do seu percurso profissional trabalhar num ou no outro sub-sistema. Tenha-se em conta que o sub-sistema escolar depende do poder central e que o sub-sistema de educação social é da responsabilidade municipal. No sub-sistema escolar separe-se a gestão pedagógica da gestão administrativa. Aceite-se que a gestão administrativa é da competência dos Conselhos Locais de Educação. Assegure-se que a gestão pedagógica é da exclusiva competência dos educadores e professores e que é contratualizada com os CLE. Finalmente, reconheça-se que se aprende fora e dentro da escola, e que a aprendizagem exige a criação de novos paradigmas. E discuta-se.

Recolha: Ricardo Jorge Costa
Organização do texto: Ricardo Jorge Costa e José Paulo Serralheiro


  
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Edição:

N.º 142
Ano 14, Fevereiro 2005

Autoria:

Redacção

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