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?I dove you?

Leio, num jornal diário, uma citação da ?Invenção do Amor? de Daniel Filipe, a propósito de uma campanha publicitária da Dove em prol da beleza real e contra a beleza que é definida,?há já demasiado tempo por estereótipos limitados e sufocantes?.
De citação livre, diz-se que o cartaz colado ?em todas as esquinas da cidade, nas paredes dos bares, à porta dos edifícios públicos, nas janelas dos autocarros e até mesmo naquele muro arruinado por entre anúncios de aparelhos de rádio e detergentes?, é, nada mais, nada menos, que o cartaz da Vieira da Silva, que em 1974 anunciava aos quatro ventos que a poesia estava na rua.
?Fechem as escolas // Sobretudo // protejam as crianças da contaminação // uma agência comunica que algures ao sul do rio // um menino pediu uma rosa vermelha // e chorou nervosamente porque lha recusaram // Segundo o director da sua escola é um pequeno triste inexplicavelmente dado aos longos silêncios e aos choros sem razão // Aplicado no entanto // Respeitador da disciplina // Um caso típico de inadaptação congénita disseram os psicólogos?
Tal como o poema, também os cartazes da Dove põem em jogo ?a verdade incontroversa das declarações políticas?.
Como se fosse (im)possível gostar de ter 95 anos e sentir-se bonita, mesmo graciosa ou ter orgulho ?num belo peito 36D? (Sic)
A verdade é que a poesia voltou à rua pela mão da publicidade, nessa campanha inesperada da Dove que ocupa espaços deixados vagos pelos cartazes da pré-campanha eleitoral em curso para as legislativas. No peito feito de mulheres charmosas, nas ?sardinhas? de uma jovem com muita pinta ou nas rugas encantadoras de uma nonagenária africana.
Nós por cá todos bem, ?I dove you too?. Poesia, às vezes, escreve-se com ?p? de publicidade. Quem diria.


  
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Edição:

N.º 142
Ano 14, Fevereiro 2005

Autoria:

João Rita
Jornalista, Porto
João Rita
Jornalista, Porto

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