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Falta de Educação!

A máquina do Ministério da Educação é colossal, enorme, tenaz e burocrática, ou seja, propícia à estagnação e retrocesso de uma área que, cada vez mais, devia ser encarada numa perspectiva séria, a longo prazo, pois não se podem obter bons resultados, nomeadamente no que se refere ao insucesso e ao abandono escolar - dois problemas que afligem os responsáveis das escolas e os professores ? sem decisões concretas e certeiras.

O ex-Ministro da Educação, quebrou o silêncio que mantinha há algum tempo.
Em entrevista recente, David Justino aponta o dedo da não colocação dos professores à ?negligência, desorganização e incompetência?, aliada a ?informações incorrectas? que foram transmitidas aos serviços, não esquecendo a ?falha de coordenação entre quem sabe de concursos e quem tinha de fazer a programação?, repartindo assim as culpas pelo caos.
Toda a longa entrevista é focada na lista de colocação de professores, admitindo o ex-responsável pela Educação do nosso país que o Ministério da Educação não sendo ?uma espécie de monstro? é ?claramente demolidor?, tendo mágoa que ?a Educação continue a ser uma sucessão de falhanços políticos.?
E, David Justino, tocou em dois pontos que, mais que a falta das listas de colocação dos professores, atormentam a Educação Nacional: máquina exorbitantemente enorme e burocrática, e constantes mudanças políticas nesta área, com novas reformas e contra-reformas, sem serem testados os resultados anteriores.
Na verdade, todos reconhecem, há muitos anos, que a máquina do Ministério da Educação é colossal, enorme, tenaz e burocrática, ou seja, propícia à estagnação e retrocesso de uma área que, cada vez mais, devia ser encarada numa perspectiva séria, a longo prazo, pois não se podem obter bons resultados, nomeadamente no que se refere ao insucesso e ao abandono escolar - dois problemas que afligem os responsáveis das escolas e os professores ? sem decisões concretas e certeiras. Mas, nada disto foi feito; pelo contrário: a centralização dos serviços e departamentos do Ministério da Educação na capital, a retirada de competências às Direcções Regionais de Educação, a tentativa (conseguida!) de extinção dos CAE?s (Centros da Área Educativa) e o facto de cada vez mais as escolas serem ?fantoches? telecomandados pelo centralismo atroz, relegando a tão apregoada autonomia para um plano de subserviência, levam a que se possa falar, usando um termo futebolístico, do sistema. Sistema que, nesta área, é feito pelos decretos-lei, despachos, circulares, ofícios e outros diplomas mais ou menos legislativos que, só trazem complicações às nossas escolas. Cada vez mais, as escolas precisam de uma autonomia efectiva e real, que possa ser praticada diariamente no campo, ou seja, no palco da Educação, que não é o gabinete do Ministério, mas antes as nossas escolas e as respectivas salas de aula.
Por outro lado, David Justino, acha que a Educação é uma sucessão de falhanços políticos. Nem mais! Sempre que um grupo de pessoas (Governo) chega ao poder, tem necessidade (necessidade que eles sentem, e não a Educação!) de pôr em prática reformas sem avaliar as que estão em curso. Mudam e confundem os actores principais da Educação: professores, alunos e pais. Grave erro em que todos caem, até o próprio ex- Ministro. Jamais poderemos continuar a ?brincar às escolinhas?. Jamais o partido que estiver no poder, poderá ?reformar por reformar? ou ?alterar por alterar?.
O problema da Educação Nacional é muito mais que o fiasco da (não) colocação dos professores nas escolas; o problema da nossa Educação são as brincadeiras constantes que os diversos governos têm feito com ela, faltando-lhe ao respeito, sem educação.


  
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Edição:

N.º 138
Ano 13, Outubro 2004

Autoria:

Filinto Lima
Professor, Oliveira do Douro
Filinto Lima
Professor, Oliveira do Douro

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