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Para uma visão complexa da Escola

Comecemos por colocar de parte a visão pejorativa veiculada habilmente por sectores política e economicamente interessados na avaliação do desempenho da actividade docente. Num certo tipo de avaliação...

A avaliação responsável e descomprometida, passa essencialmente pela capacidade auto-reflexiva do Professor que questiona a sua actuação pedagógica, numa multiplicidade de perspectivas: o factor estritamente técnico-científico, a estruturação curricular e introspecção crítica.
A complexidade inerente á profissão docente tem várias implicações às quais o profissional tem que estar atento. O professor é crescentemente, nos dias de hoje, um agente de um processo amplo integrado por várias dimensões e realidades: Escola, Meio, Alunos, Encarregados de Educação, Auxiliares de Acção Educattiva, Administração. Ao emergir nesta cadeia de interesses e interacções, o docente é simultâneamente elemento condicionante e condicionado, determinante no processo de ensino-aprendizagem e expressão de um contexto sócio-educativo de maior amplitude, com óbvias matrizes políticas a obrigarem a uma reformulação constante da sua actuação de forma a constituir factor crítico e construtivo do sistema de ensino.
O Professor não se pode tornar num mero transmissor de conhecimentos, decididos no exterior da sua esfera de acção, assentes numa lógica excessivamente tecnicista e numa visão calculista do Currículo. Independentemente da qualidade das suas competências pedagógico-didácticas, o factor humano releva da personalidade do Professor, pois esse é o elemento fundamental que lhe permite, no momento certo, alcançar de modo mais ajustado o sentir do aluno, a ordem das suas necessidades, a especificidade própria do aluno indivíduo, inserido este numa cadeia de grupos e colectivos que o pressiona, compromete e desafia. 
Uma Escola é um espaço complexo. Lida com mentalidades e culturas particulares, muitas vezes não deixando de se tornar num veículo de imposição e uniformidade cultural. Espaço rico porque pleno de crispações e contrastes, só se poderá constituir em efectivo factor de convergência se os seus princípios assentarem numa lógica de respeito pela diversidade. Não se concebe actualmente, uma Escola Pública de objectivos diferentes.
As questões são muitas e as respostas nem sempre fáceis. Equacionar o problema do ensino com base em meras estatísticas e resultados é indubitavelmente o caminho mais simplista, mas deturpa a natureza intrínseca da Escola, por ignorar a complexidade dos problemas. Se isolarmos a Escola do meio, do factor humano representado pelo aluno, professor e demais intervenientes, então não será difícil apresentar soluções a curto prazo. Mas os efeitos a médio e longo prazos serão devastadores pois um Ensino direccionado meramente para o desempenho escolar no sentido tradicional do termo, acentuará disparidades sociais, introduzirá factores de hostilidade e consequentemente compartimentação sócio-económica, desvirtuará inevitavelmente os valores da Democracia, transformando esta numa mera figura de retórica em que ninguém acreditará. Actualmente o papel do Professor deverá caminhar no sentido de inverter esta tendência que ameaça os alicerces de uma sociedade mais justa e mais humana.


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 137
Ano 13, Agosto/Setembro 2004

Autoria:

Paulo Frederico Ferreira Gonçalves
Professor do 2º ciclo na Escola Básica S. Torcato - Guimarães
Paulo Frederico Ferreira Gonçalves
Professor do 2º ciclo na Escola Básica S. Torcato - Guimarães

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