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É necessário introduzir conceitos de bem estar animal nos ensinos básico e secundário

Neste artigo eu defendo  que,  à semelhança do que foi feito com o conceito de ecologia, noções sobre bem estar animal deveriam ser incluídas no programa dos ensinos básico e secundário como uma disciplina independente ou como parte integrante de outras disciplinas.
Nos anos setenta, verificou-se uma mudança nos programas de ciências naturais do ensino secundário onde o estudo descritivo de animais e plantas  foi substituído pela inclusão de princípios de ecologia.
Não há dúvida que movimentos como o Green Peace influenciaram o rumo dos programas educativos de muitos ministérios de educação, que sentiram como uma necessidade moral a inclusão de conceitos de ecologia nos curriculum de ciências.
È nesta fase em que a juventude está aberta a ideias com propósito. Os jovens estão á procura de uma causa e é então, aproveitando esta receptividade que se devem introduzir conceitos de respeito moral pelos seres vivos.
Se programas de reciclagem de lixos, por exemplo, são razoavelmente aceites nas sociedades actuais, isso deve-se provavelmente á receptividade de uma população sensibilizada para os problemas ambientais.
Do mesmo modo, se queremos desenvolver uma sociedade sensível à crueldade para com criaturas sencientes, é necessário introduzir esses conceitos nas mentes dos jovens do presente. Conceitos de fisiologia da dor e sofrimento deveriam ser incluídos em secções da biologia, a discussão dos princípios éticos do uso de animais deveriam ser incluídos em aulas de filosofia.
Mas o grande desafio do presente é a formação de professores capazes de entender o significado desta problemática e perceber antes de mais o porquê da sua importância.
A educação em princípios de bem esta animal tem que começar antes de mais nas faculdades de educação. Só com professores bem elucidados poderemos construir um curriculum adequado ao ambiente escolar do ensino básico e secundário.
A título de exemplo apresento aqui o caso de um orientando que me mostrou as redacções dos seus alunos que tinham como focus uma visita ao circo. Os  alunos desenharam animais nas jaulas escrevendo  textos assumindo o quanto esses animais estavam felizes por poderem ter a oportunidade de se mostrar em shows. Quais foram os erros pedagógicos cometido por este professor? Primeiro ensinou ás crianças associações antropomórficas entre os sentimentos dos humanos e dos animais. Depois e  mais grave ainda, influenciou o pensamento das crianças  a aceitar o facto de existirem  animais selvagens em cativeiro no circo e levando-os a pensar que os animais estavam felizes.
Histórias onde animais de espécies diversas são associadas com boas ou más características humanas são frequentes na literatura infantil levando ao desenvolvimento de medos não fundamentados e agressões para com certas espécies selvagens  no inconsciente colectivo  Por causa deste tipo de histórias espécies ameaçadas de extinção continuam a ser perseguidas em diversas partes do planeta.
O ensino de fantasias sobre animais vem mais tarde influenciar as atitudes dos adultos. É por isso que assistimos hoje a declarações patéticas de veterinários insistindo em que os animais mantidos em circos, ou em Zoos não têm quaisquer problemas na área da qualidade de vida ou que os touros gostam de se exibir nas touradas. Tais declarações não só demonstram ignorância profissional também trazem uma carda de mitos criados durante a infância.
Tradicionalmente as redacções sobre animais eram baseadas no tema ? Para que serve o animal?? A vaca serve para dar o leite e o couro, o cão serve para guardar a casa, o gato serve para matar ratos, a galinha serve dar a carne e ovos. A presença  do conceito ?servir?  acaba sendo introduzido como informação subliminal determinado as atitudes dos futuro adultos. Este sentido utilitário do animal está constantemente presente no  discurso político, religiosos profissional da nossa sociedade. É importante mudar esse paradigma. Os animais não servem..os homem é que se servem deles.
É urgente modificar esta concepção de utilidade do animal e da natureza. Todos os seres vivos são parte de uma teia ecológica complexa. Se nos achamos diferentes dos outros seres vivos por usufruirmos de algo a que chamamos ?racionalidade?, então é nossa obrigação moral respeitar os outros seres vivos pelo seu valor intrínseco e não na sua utilidade. È nossa obrigação enquanto educadores passar essa mensagem aos adultos do futuro.


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 157
Ano 15, Junho 2006

Autoria:

Anabela de Assis Pinto
Department of Veterinary Medicine. Cambridge University, UK
Anabela de Assis Pinto
Department of Veterinary Medicine. Cambridge University, UK

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