Repensar o território para intervir na mudança da cidade
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O planeamento urbano, no sentido moderno, aparece no séc.
XIX a partir das intervenções de engenheiros e militares.
A fundamentação teórica é alicerçada no paradigma mecanicista.
A cidade é entendida como uma "mega-máquina" que ajuda a regular o funcionamento
produtivo e sobretudo a reproduzir o modelo urbano-industrial do capitalismo.
Assim, a cidade adaptava-se ao modelo de crescimento económico:
- intervenção viária (novas ruas, avenidas e praças mais rápidas)
- intervenção higienista (esgotos, condutas de água, pulmões verdes)
- intervenção administrativo-militar (casernas militares e outros aparelhos
de controlo e reprodução social)
Este urbanismo comandado de cima para baixo, corresponde à
fase de reorganização do estado capitalista e ao seu papel estratégico na condução
da política. O estado regulou assim as múltiplas contradições de classes da
nação e os interesses gerados pelos antagonismos do crescimento desigual do
capital internacional.
De uma forma hegemónica, esta orientação estratégica prolongou-se
até aos nossos dias.
Estruturalmente, este funcionamento dos sistemas territoriais
não mudou ainda. Processa-se segundo o modelo do "metabolismo linear" ou seja,
segundo o funcionamento mecanicista da cidade, através da exploração da periferia
pelo centro hierarquicamente dominante. Alimenta-se de energia fóssil, polui
e cresce desertificando a envolvente. Esgotamento e contaminação são a essência
deste modelo de crescimento urbano
Dos finais dos anos 80 até agora, surgem brechas estruturais
no pensamento sobre a cidade. A emergência de um outro paradigma vai obrigando
a definir estratégias diferentes na teoria sobre a cidade e o território. E
surgem mesmo práticas de intervenção que mostram, pontualmente, alternativas.
A concepção mecanicista e termodinâmica do território é obrigada
a coexistir com uma nova imagem e percepção da natureza e da paisagem. O "metabolismo"
linear do crescimento predador alheado do esgotamento dos bens da própria natureza
e gerador da contaminação do planeta, originou nas populações preocupações ecológicas
decisivas.
Assim, o território e a cidade começam a ser entendidos como
um "eco-sistema".
Progressivamente, estabelece-se uma nova ruptura epistemológica
do conceito de cidade, território e natureza. Torna-se cada vez mais claro que
o novo desenvolvimento ecologicamente sustentado exige que os materiais sejam
recicláveis e as energias renováveis.
Nestes últimos anos, o urbanismo no norte do País, tem sido
no mínimo desastroso. O arquitecto Nuno Portas que representa a ideologia dominante
da maioria das intervenções, propôs uma urbanização sobre as dunas da reserva
ornitológica do Mindelo, (junto a Vila do Conde) que só graças à contestação
não veio a realizar-se.
Também as propostas e "arranjos" do arquitecto Nuno Portas
na urbanização de Vila Nova de Gaia, aquando da sua vereação, culminaram numa
cidade-shoping atravessada por fluxos rápidos, originando atropelamentos.
Os projectos para o Porto Capital da Cultura 2001, atestam
intervenções sobretudo de cosmética.
Há ainda a referir a desastrosa intervenção da Câmara Municipal
do Porto, sob a presidência do Engº Nuno Cardoso, em pretender construir edifícios
no espaço verde do parque da cidade contra os interesses dos cidadãos.
É urgente preparar acções exemplares de cidadãos para impedir
que o Parque da Cidade se torne presa dos interesses gananciosos da especulação
imobiliária.
Daremos notícias próximamente de decisões assumidas por um
grupo de cidadãos.
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Ficha do Artigo
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Edição:
Ano 11, Março 2002
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Autoria:
Fac. de Arquitectura da Univ. do Porto
Fac. de Arquitectura da Univ. do Porto
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