Brincar no exterior está na moda. Para o efeito pouco importa a geração,
a necessidade ou mesmo a maneira diferenciada de expressão.
Diz-se que as pessoas estão cada vez mais a sair do
seu "mundo interior", onde não existe risco, ou onde tudo está
controlado para se aventurarem em novas práticas e novos comportamentos.
Por exemplo, os jovens cada vez mais junkies de adrenalina
praticam, de preferência individualmente, um conjunto multivariado de
actividades que servem essencialmente para se exaltarem e impressionar os outros.
Por seu lado, os adultos são atraídos pelas provas de aventura,
que exigem uma considerável preparação, desde a formação
de equipas à compra de equipamentos, atravéés das quais
podem viver várias experiências através das quais procuram
encontrar respostas para os seus questionamentos existenciais.
Para completar o quadro falta os mass media, com a televisão
à cabeça, que desde os meados dos anos 1990, isto é, no
início da vaga internacional das emissões de tipo reality show,
como o Survivor ou o Big-Brother, dá cobertura a todo um
conjunto de eventos, em que a cadeia televisiva Discovery Channel com a prova
Ecochallenge foi a iniciadora.
Este enorme frenesi pessoal e colectivo, que motiva imensos
participantes e muito mais mirones, tem um impacto imensurável sobre
os telespectadores, tanto mais que o que nos é oferecido, é a
alteração da nossa percepção da realidade. Os mass
media especializados neste tipo de programas, deformam e trasformam a realidade.
Enquanto filtro que é, e que impede uma comunicação equilibrada
com o mundo, o media visual selecciona, trata, controla.
Assim é, quer se trate da avó de 64 anos, que
acabou de fazer a sua última plástica para não perder o
ar da juventude, do ex-alcólico que quer terminar a sua corrida para
exorcizar os seus velhos demónios, ou da mulher que venceu um cancro
da mama, tudo se torna em espectáculo, todos eles, à sua maneira,
são exploradores do tempo (pós) moderno, todos eles são
heróis que querem viver uma loucura de sensações, de preferência
em directo diante das câmaras televisivas.
A célebre frase de Andy Warhol, dizendo que todo o ser
humano quer ter os seus quinze minutos de celebridade é o lema que move
os media a procurar junto de todos os estratos sociais os ingredientes duma
receita que possa ser mediatizada enquanto história.
Mas o que é que mais nos espera ainda? O que é
que nos vai ainda mais ser oferecido?
Sem dúvida que mais e mais "criadores", mais e mais
"formatos". Depois do sucesso dos vários reality show em todas
as sociedades "democraticamente avançadas", não é de nos
surpreendermos que o número de emissões de aventura e furor possam
vir a aumentar em flecha nos próximos tempos..
Consta que Mark Burnett (organizador do Ecochalange
e produtor de Survivor) está em vias de por em acção
uma emissão televisiva em colaboração com a NASA
onde se comemnta que o vencedor poderá, quem sabe, ir fazer uma volta
no espaço.
Do lado da aventura desportiva, também se anuncia uma
nova prática que poderá fazer furor. Trata-se do speed golf,
que se pratica como o golf regular, com a diferença que quem praticar
esta modalidade deve completar o percurso a correr o mais rapidamente possível.
Não é descabido perguntar: por este andar os reformados do futuro
optarão pelo golf ou pelo speed golf ?
Enfim, media e actividades de aventura a mesma luta !
No entanto, a situação degenera, em especial
na Europa, de mês para mês e a corrupção generalizada
das consciências levada a cabo especialmente pelos media audiovisuais,
essa não deixa de aumentar. Até quando ?
António Mendes Lopes
Instituto Politécnico de Setúbal
amlopes@ese.ips.pt
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