É no desejo em responder ao apelo feito pela drª Isabel Baptista, no
mês de Setembro de 2000, no jornal a Página, que decidi partilhar
uma das minhas experiências como educadora social.
O plano de estudos da Licenciatura em Educação Social, na Universidade
Portucalense, contempla várias disciplinas, nomeadamente a construção
de um Projecto Profissional. É sobre este mesmo projecto que tenciono
falar, não só pelo imenso prazer de realização que
me ofereceu, mas também porque se desenrolou numa das áreas em
que o educador social pode intervir de uma forma diferente e original.
Esta minha experiência iniciou-se em Março de 2000 quando contactei
o Parque Biológico Municipal de Gaia (actualmente empresa municipalizada),
para sugerir a possibilidade do desenvolvimento do trabalho já referido.
Para quem não sabe, este Parque é um centro permanente de educação
ambiental, sendo esta mesma área passível de uma intervenção
por parte do educador social, o qual poderá ter diferentes funções,
tais como: informação, interpretação ambiental,
formação, mediação e mobilização,
às quais podem corresponder diferentes actividades, como por exemplo
a dinamização de centros especializados em educação
ambiental.
Após o primeiro contacto a abertura e disponibilidade foram totais não
só em fornecer dados e informações, mas também criticando
e estimulando o meu trabalho.
Nesta mesma altura é-me feita uma proposta de colaboração
com o projecto mais recente a que o Parque se tinha lançado ? a exposição
permanente sobre ambiente e os seus aspectos positivos e negativos ? "Encantos
e Desencantos ? Uma exposição sobre a vida na Terra".
Esta exposição seria constituída por várias fases,
sendo a última destinada ao toque e contacto com diferentes elementos
como folhas, penas, pinhas, pedras, entre outros, onde seria necessário
criar, sobretudo, alguma interactividade.
Procurando responder ao pedido feito, optei por desenvolver um conjunto de
seis jogos que se debruçavam sobre pequenos comportamentos e atitudes
que todos nós realizamos, ou não, no nosso dia à dia.
Fui desenvolvendo, em simultâneo, uma vertente teórica, que me
permitiu aprofundar a questão ambiental, e uma vertente prática
que me forneceu sobretudo sensibilidade e uma aprendizagem contínua com
os outros.
Foi assim que me vi agradavelmente envolvida num projecto e numa das áreas
que sempre me atraiu. Os dias ou horas que dedicava a este trabalho foram vividas
intensamente e com uma explosão de alegria sempre que uma ideia surgia,
ou mais um passo era dado no sentido de alcançar o final.
Só o escrever quase me faz reviver aquele palpitar do coração
e a emoção que é ver nascer aquilo que era apenas uma ideia
e que partiu de dentro de nós.
Quando finalmente o jogo estava concluído a sensação foi
ainda mais curiosa: já não era meu, pertencia a todos, e eram
e são as reacções que agora me roubam, inevitavelmente,
um enorme sorriso dos lábios.
Mas a conclusão que se tira depois de realizar um trabalho deste tipo,
e considerando que foi um trabalho de final de curso com uma pesquisa e maturidade
só agora a nascer, é que o respeito é, provavelmente, o
princípio da educação ambiental.
Se pensarmos no ambiente sob o ponto de vista mais amplo que conseguirmos,
acabamos por nos deparar com este pensamento: se a pessoa tiver uma noção
de respeito alargada e vivida, considerando o outro e a liberdade que lhe está
inerente, facilmente aceita a diferença, mesmo que não a entenda,
uma vez que para tal é necessário o diálogo.
Se com base neste princípio , adoptado pela raça humana, formos
capazes de o alargar a todos os seres vivos, a tão falada problemática
ambiental estaria a caminho de uma considerável melhoria.
O primeiro problema está não só na dificuldade em assumirmos
tal princípio, mas também no facto de muitas vezes faltarmos ao
respeito a nós próprios.
Assim, e considerando que corro o risco de estar a ser reducionista e como
tal não considerar as diferentes perspectivas sob o ponto de vista ambiental,
a educação ambiental é sobretudo uma educação
para os valores. Afinal o problema do ambiente existe porque o homem existe!
Acreditando na educação ambiental , mas sobretudo na enorme capacidade
humana, uma vez que não só a idade mo permite mas também
a profissão que escolhi, espero sinceramente que este novo milénio
nos traga mais motivos de alegria e harmonia.
Maria Rita de Abreu Freire Teixeira Valente
Educadora Social
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