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Grupos reais

É um lugar comum, eu sei, mas espero, sinceramente, que tenha passado umas boas férias, principalmente se seguiu os conselhos de recuperação que lhe foram dados na Página de antes de férias.
Adiante. Já uma ou outra vez aqui se contaram algumas histórias: uma fábula, uma história passada no longínquo Japão no tempo dos samurais, enfim, fábulas e histórias que nunca sabemos bem se são verdadeiras. Mas, esta que lhe vou contar hoje é bem real. E como estamos no início do ano lectivo vem mesmo a calhar. Ora atente bem:
Era uma vez um grupo de amigos: três homens e duas mulheres, todos músicos e em que cada um tocava o seu instrumento; mas, como eram amigos e gostavam de cantar, além de tocar, encontravam-se amiúde para cantarem arranjos de músicas conhecidas, muitas delas constantes do célebre livro 'The Real Book', que contém uma boa centena de peças das mais conhecidas do jazz. Ora um belo dia, foram ouvidos por alguns amigos comuns que lhes acharam tanta graça que começaram a convidá-los para abrilhantarem festas, tais como casamentos, aniversários, baptizados, sabe se lá que mais, enfim aquelas coisas... E num ainda mais belo dia, estavam eles no seu Conservatório, certamente em algum intervalo de aulas e puseram-se a cantar. Eis senão quando chega o Director da Escola que ficou deliciado a ouvi-los. Aconteceu então que um pouco mais tarde o Director lhes fez uma surpreendente proposta: por que não deixavam os seus instrumentos e passavam a dedicar-se em exclusivo à música vocal? Ele próprio se encarregaria de tratar de todas as 'legalidades' de modo a que eles pudessem concluir o seu curso de música, mas agora nesta modalidade, especialmente criada para eles. Foi-lhes cedida uma sala na cave do Conservatório onde colocaram uma aparelhagem e onde estiveram dois anos a trabalhar. Uma sala só para eles, e um curso criado propositadamente para eles! Adoptaram então, em honra do livrinho que lhes tinha servido de base, o nome de 'The Real Group'.
Bem, actualmente são considerados já o melhor grupo vocal do mundo e a sua agenda de concertos é tal que pouco tempo passam no seu próprio país. Esta é uma história verdadeira que se passou no Conservatório de Música da capital de um grande país nórdico.
Mas espere aí que a história ainda não acabou. Tenho uma amiga que estuda MÚSICA numa Universidade; por acaso também canta num grupo. Há dias, depois de um ensaio (está visto, cantamos no mesmo grupo!) disse-me: tenho de ir para casa rapidamente porque amanhã tenho um exame na Universidade. E a minha curiosidade foi de imediato satisfeita: exame de Organização e Administração Escolar! Eu dei uma grande gargalhada, e ela também porque sentido de humor não lhe falta.
Modéstia à parte, não tenho falta de algum sentido de responsabilidade. Mas a verdade é que desta vez, depois desta história me acho com direito a fazer uma pergunta: você acha mesmo que este país é para levar a sério?

Guilhermino Monteiro


  
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Edição:

N.º 71
Ano 7, Setembro 1998

Autoria:

Guilhermino Monteiro
Escola Secundária do Castêlo da Maia
Guilhermino Monteiro
Escola Secundária do Castêlo da Maia

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