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Soberanos do tempo, sujeitos de alteridade e mudança

A PÁGINA de inverno sai a público na entrada de um novo ano. O que explicará uma certa acentuação reflexiva em torno do tempo humano, das suas descontinuidades, das suas interpelações e dos seus desafios. Os textos que integram esta edição falam de um tempo de urgência, de atenção prioritária e de ação inadiável. Mas falam também de um tempo para amadurecer os esforços de mudança. Tempo para debater, para formar, para avaliar e para acompanhar.
Tempo para sermos surpreendidos pela “multiplicidade de histórias que há em cada um de nós”, tempo para sermos “mais humanos, mais felizes, mais coletivos”, como nos diz Mia Couto, um dos maiores representantes da Língua Portuguesa, recentemente distinguido com o Prémio Camões e com o Prémio Neustadt de Literatura. Na verdade, “não precisamos de mais tempo, mas sim de um tempo que seja nosso”, como expressão de solidão escolhida, ao contrário da solidão-desamparo sugerida pelos rostos em evidência no portefólio assinado por Antero de Alda.
É um dos paradoxos do nosso tempo, num mundo cada vez mais conectado, num mundo de comunicação extraordinária, potenciada por imensas redes de interconexão material e imaterial, seja em que idade for, o desejo pessoal de relação e ligação parece transformar-se em necessidade generalizada e premente.
O ano que agora termina foi especialmente difícil para a Democracia, para a Educação e para a Escola Pública, como salientam os nossos colaboradores, em particular os dois entrevistados.
Ana Maria Bettencourt, responsável pela produção de três relatórios sobre o estado da Educação enquanto presidente do Conselho Nacional de Educação, aceitou dialogar sobre os assuntos a que tem dedicado a sua carreira profissional e que constituem desafios comuns, como a inovação pedagógica, a formação de professores e a política educativa.
David Rodrigues, colaborador permanente da PÁGINA e autor da mais recente obra da nossa coleção [Equidade e Educação Inclusiva, Coleção a Página, novembro/2013], associando o tempo da escola ao tempo da vida, coloca-nos diante de imperativos incontornáveis no âmbito da cruzada em defesa de uma educação de qualidade para todos, sem exceção.
E é justamente em nome desse ideal de cidadania inclusiva e solidária que fazemos questão de abrir espaço para os atores significativos da cidade, pessoas e instituições. Desta vez, destacamos o Teatro Experimental do Porto, uma companhia histórica e de referência, uma verdadeira casa de Cultura. Tal como acontece com todos os portugueses, a PÁGINA termina o ano num clima de inquietação e incerteza sobre o seu futuro próximo. Mas o que mais importa é que o nosso compromisso continua a ser o mesmo, um compromisso de luta, de reinvenção e de mudança. Afinal de contas, só assim o tempo é levado a sério.
Parafraseando o filósofo Emmanuel Lévinas, o futuro não pré-existe, nem é virtualmente real. O movimento de produção de futuro implica uma relação humana com a utopia e não um caminho em direção a algo predeterminado. Dizemos, por isso, que “o tempo é o lugar natal da esperança”.
Assim, soberanos do tempo, conseguiremos alimentar a contracorrente de alteridade e esperança. Juntos, conseguiremos realizar a mudança. Porque é mesmo preciso que em 2014, quarenta anos depois, “Abril” aconteça, outra vez!...

É isso que me inspira: a infinita briga entre sermos um só e sermos plurais e cheios de potencialidades para a alteridade.
[Mia Couto, nesta edição]


  
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Edição:

Edição N.º 202, série II
Inverno 2013

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