«Ler conquista-se.» Georges Jean, O Poder de Ler (1978)
A repetição é o acto ou efeito de repetir e repetir é dizer ou realizar de novo, insistir. Já não é a primeira vez que o assunto leitura por aqui surge. Mas quando se trata de temas valiosos nunca é demais voltar a eles. Para quem ainda não sabe ler, particularmente para as crianças, é muito importante desenvolver actividades que funcionam como pré-requisitos facilitadores do processo de aprendizagem da leitura. São eles: i) compreender a finalidade da leitura; ii) dominar os princípios da estrutura e da organização gráfica da escrita e iii) desenvolver competências de leitura. Para compreender a finalidade da leitura, é fundamental que a criança contacte desde tenra idade com material escrito reconhecendo-lhe funções comunicacionais, informativas e de lazer. Para atingir o 2º pré-requisito, desenvolvem-se actividades nas quais a criança se apercebe que se escreve e lê de cima para baixo e da esquerda para a direita (na nossa cultura) e que a escrita se organiza em segmentos gráficos compostos por unidades – as palavras e as letras – que são detentoras de um código a decifrar. Para desenvolver competências de leitura, o 3º pré-requisito, é importante que se desenvolvam na criança competências fonológicas, por exemplo, através de rimas e aliterações. Para quem já adquiriu a competência leitora, é urgente ler; ler incessantemente, pois só a prática da leitura poderá incrementar o gosto por essa actividade e poderá, também, tornar cada vez mais fácil a compreensão dos textos. Normalmente, os 2 primeiros anos de escolaridade são fundamentais na aprendizagem da leitura, mais especificamente, na aprendizagem da descodificação. Numa conquista diária, a criança prossegue na descodificação do código alfabético e respectivo sentido e o estímulo para avançar é tanto mais forte, quanto maior é o êxito. A leitura repetida é uma excelente técnica para apurar a fluência. Um leitor fluente, não só descodifica e compreende simultaneamente, como despende menos esforço e tempo na leitura. Num estudo realizado pelos investigadores Samuels, Schermer e Reinking (1992) ficou demonstrado que a leitura repetida influencia o movimento ocular permitindo menos fixações por linha e fixações mais curtas. Isto significa que o leitor avançará mais rápido na leitura do seu texto pois reconhece palavras automaticamente, não sendo necessário identificar as palavras letra a letra ou sílaba a sílaba. Foi a pensar nas vantagens da leitura e nas necessidades dos alunos do Agrupamento onde trabalho, que surgiram os Livros Andarilhos. Esta é a designação atribuída a uma actividade conjunta do Agrupamento Vertical de Montemor -o- Novo e da Biblioteca Municipal Almeida Faria, em colaboração com a Câmara Municipal, que pretende fazer circular um conjunto diversificado de livros pelos Jardins de Infância e Escolas do 1º Ciclo do concelho, particularmente pelas salas que não beneficiam das Bibliotecas Escolares. Ao todo são 19 salas (5 + 14) e o objectivo, já se vê (mas nunca é demais repetir) é promover a leitura. A Câmara fez chegar a todos os estabelecimentos participantes um saco, identificado com o logótipo da actividade, contendo 30 livros com graus de dificuldade variada de modo a poder cativar todas as idades, o regulamento da actividade e um pequeno livro e requisições. Durante cerca de mês e meio, o saco permanece no estabelecimento cabendo aos docentes determinar o período de tempo que fica em cada sala. Não há actividades pré-definidas; o saco de livros é utilizado livremente por cada turma, contudo o conhecimento do regulamento é o ponto de partida. Estando a família conhecedora da actividade e sendo um aliado no processo de promoção da leitura, os alunos podem requisitar livros. Terminado o tempo previsto, novamente o pessoal da Câmara vai recolher os sacos e entregar outros contendo novos livros. E assim se repetirá até final do ano lectivo. E, quem sabe, se repetirá no próximo, porque quando se trata de coisas valiosas, nunca é demais voltar elas.
Betina Astride
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