Página  >  Edições  >  N.º 178  >  A China de Braudel e os Estados Unidos

A China de Braudel e os Estados Unidos

Fernand Braudel nos dá a visão de uma China como um gigante. Um gigante ancestral que caminha lentamente em direção ao desenvolvimento. Um país de tradições milenares que praticamente sustentaram as estruturas conhecidas.
Em meio a revoluções e movimentos, e uma Guerra Mundial que o destitui de porções do seu território, o país se vê invadido por ocidentais e investidores, impregnados com a mentalidade de progresso. No entanto, o progresso, para um lugar como a China, precisa de tempo para encontrar bases sólidas.
É nessa parte do texto que Braudel relata uma ambigüidade interessante: a tradição enraizada na China, ligada a uma imobilidade social inspirada pelo Confucionismo, que com ela carregava também uma xenofobia e o profundo desejo de livrar o país dos ocidentais, e a percepção da necessidade de se aprender com eles as suas "receitas de eficiência", suas técnicas e ciência.
A resistência à modernização juntava-se à xenofobia chinesa. Como poderemos analisar a profundidade em que uma influenciava a outra? A idéia da modernização envolvia estar pronta para admitir idéias ocidentais, talvez até extinguir tradições, que por tanto tempo mantiveram a China unida, tanto quanto a religião manteria unidos os países da Europa. A aversão aos estrangeiros, a indiferença a outras formas de cultura, era o que garantia o apoio popular ao governo chinês na luta para acabar com a invasão econômica e social do seu país. Mas há mais do que isso. De certa forma, a xenofobia justificava os atos governamentais em relação à censura cultural, e controlando-se a cultura, poderiam controlar a mente das pessoas.
Cada produção literária ou artística era revisada por um comissário cultural para que nenhuma reação burguesa contrária ao partido se instalasse. Com a desculpa de livrar o país das idéias estrangeiras, a China passou a controlar a mentalidade das pessoas e as suas formas de expressão. Diz Braudel que a China tem um orgulho muito mais culturalista do que nacionalista.
O relato do historiador nos faz pensar numa realidade mais atual. A xenofobia norte-americana, justificada pela proteção contra o terrorismo. É difícil saber se esse inconsciente coletivo dará margem para a história estadunidense seguir a história da China. Por enquanto, não vemos grandes censuras, mas os meios de comunicação bombardeiam os cidadãos com informações que os fazem temer cada vez mais a presença dos estrangeiros em seu país. Se Braudel estivesse vivo, talvez escrevesse sobre o método invertido adotado pela América do Norte, expondo as pessoas ao resto do mundo para que tenham medo, ao invés de temer que elas se contaminem pelas idéias estrangeiras. O patriotismo dá a garantia de uma mentalidade incorruptível. Apesar de muitos não concordarem com a história como sendo um fenômeno cíclico, é impossível não enxergar as semelhanças entre a China de Braudel e os Estados Unidos de hoje.

Camila Garcia


  
Ficha do Artigo
Imprimir Abrir como PDF

Edição:

N.º 178
Ano 17, Maio 2008

Autoria:

Camila Garcia
Estudante. Faculdade de História do Unilasalle
Camila Garcia
Estudante. Faculdade de História do Unilasalle

Partilhar nas redes sociais:

|


Publicidade


Voltar ao Topo