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Hooligans Jornalísticos

Gostaria de narrar, que agora muito "boa gente" gosta de falar sobre a educação e alvitrar sobre esta temática, pois bem, tenho vergonha destes pseudo-jornalistas, que julgam que sabem de tudo e mais alguma coisa e gostam de opinar sobre a educação como se falasse-mos de um tema banal, como por exemplo, do hooliganismo. São sem dúvida especialistas nesta área, grandes sabedores que estavam perdidos neste pequeno Portugal.
Responder a estas insignificantes opiniões é sem dúvida dar mais importância do que se deve, mas, contudo, quando reflicto e deduzo que estas miseráveis opiniões pseudo-jornalísticas são absorvidas por uma sociedade deveras mal informada, que vê nos professores uns "bons malandros", não posso deixar de defender uma classe profissional que nos últimos anos vem perdendo o seu valor social, valor este estruturante para a construção de uma sociedade.
Não é com fechar escolas que se melhora a educação, é sim com criar centros educativos capacitados com todas as infra-estruturas (sala de aulas, pavilhão gimnodesportivos, campo de jogos, espaços verdes, cantina, polivalente multiusos, bar-refeitório, sala de informática, salas de apoios?) que não existe; e com os devidos recursos humanos (que não existem), apoiados por uma rede de transportes escolares de boa qualidade para servir as crianças que fiquem distantes destes centros educativos (que não existe), pergunto pois aos senhores jornalistas: existem estes centros educativos por todo o nosso Portugal?
Não é só criar no papel as aulas extracurriculares, que as mesmas são logo viáveis na escola, deve apostar-se na qualidade. Mais infra-estruturas qualificadas e mais recursos humanos qualificados. O que temos na actualidade? As infra-estruturas são as mesmas de sempre. Os recursos humanos, professores ou monitores, após uma licenciatura de 5 anos, são contratados com pseudo-contratos, a recibo verde, e leccionam, num final de tarde, sem material e com meia dúzia de alunos. Grande ideia!
Também não basta criar as aulas de substituição. O que faz um professor de matemática com os alunos de educação musical? Pode sempre contar quantas notas existem. E o professor de inglês com os alunos de educação física? Talvez falar sobre o surgimento do soccer seja uma solução.
Falemos ainda do problema da colocação dos professores. O governo autoriza a criação e o aumento do número de cursos e faculdades de educação para combater a falta de professores em determinadas áreas, e inexistentes em imensas áreas, contudo não regula esses mesmos cursos em termos de vagas ao longo dos anos, o que gera um descomunal aumento de número de licenciados em ensino e o seu consequente desemprego e a sua precariedade profissional. E qual é a atitude do governo? Simples, muito simples, o governo entende que não tem a obrigação de empregar esses licenciados. Aplausos mais uma vez para o governo quixotesco. (...)
Isto não se faz, delegam nas escolas tudo e mais alguma coisa. Fizemos isto e aquilo, dizem eles, depois, lá no Parlamento, contudo quem fez foram os professores, essa é que é a verdade.
Não foram eles que lutaram contra o insucesso escolar e contra o abandono escolar ao longo destes últimos 20 anos, foram sim os professores, e agora chega uma pseudo-intelectual da educação a colher os frutos da maior luta dos professores. Uma só palavra, indigno.
A educação aos professores, estes são os agentes principais da educação, sem estes o ensino não existe, são o motor que move a educação, e o único inimigo da educação é o voluntarismo governamental, que invoca a razão da força, e eu invoco a força da razão.
A luta dos professores não é uma luta político-partidária, como alguns querem fazer parecer, é, sim, uma luta social de todos.

Gui Duarte Meira Pestana


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 178
Ano 17, Maio 2008

Autoria:

Gui Duarte Meira Pestana
Coordenador e Docente do Curso de Motricidade Humana Instituto Piaget, ISEIT - Mirandela
Gui Duarte Meira Pestana
Coordenador e Docente do Curso de Motricidade Humana Instituto Piaget, ISEIT - Mirandela

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