O cinema e as mídias em geral, por si sós, não são propiciadoras de mudanças. Dependem dos contextos, das pessoas, dos tempos e relações que propiciam. As pessoas, em interação com o cinema, tornam-se mediadoras deste, assim como o cinema torna-se mediador entre as pessoas. Embora diferentes, professores, alunos e mídias complementam-se na função pedagógica comunicacional, cada um com suas especificidades. Assim como o cinema, os sujeitos escolares são possuidores de culturas e saberes específicos. Os limites (entre mídias tecnológicas e humanas) alteram-se e misturam-se oportunizando relações criativas e, muitas vezes, inesperadas. Importa que o sujeito escolar se converta de agente passivo em sujeito ativo, livre, responsável e crítico dos meios de comunicação, por meio de diferentes formas de expressão criativa ? por imagens, códigos, símbolos, relações, emoções e sensações. Preconizar o espaço escolar como um local de produção de conhecimento e, portanto, de cultura; considerar o cotidiano dos sujeitos escolares, profundamente marcado pelos meios de comunicação; recorrer ao processo dialógico para a conscientização no processo de leitura da realidade e apropriação das linguagens tecnológicas e culturais; considerar a importância do lazer, do prazer e envolvimento emocional existentes no ensino-aprendizagem, tornando-o dinâmico e interessante. O trabalho com imagens instaura o múltiplo, a vivência com o movimento, com o diferente e com a produção de significados e de subjetividades. A produção de sentidos permite aos sujeitos, rupturas e decisões em momentos aparentemente difíceis e fechados. As configurações de sentido participam da produção de sentidos do sujeito, associadas às formas mais relevantes de sua atividade e de seus sistemas de relações dentro do contexto cultural que vive. Ao definir que as configurações subjetivas participam da produção de sentido, definimo-las como elementos constituintes dessa produção, mas não como determinantes dela, pois o contexto e o pensamento do sujeito...são vias de produção de sentido que caracterizam toda a atividade humana (Rey, 2002, p. 22). Ao contrário do homem da era de Guttemberg, treinado para a racionalização e a distância afetiva, o homem da civilização audiovisual eletrônica, no entender de Babin e Kouloumdjian (1989), conecta intimamente a sensação à compreensão, a coloração imaginária ao conceito. Sem afetividade não há aprendizagem, sem afetividade não há audiovisual. Esta nova linguagem que interconecta e aproxima os indivíduos treina múltiplas atitudes perceptivas e solicita constantemente a imaginação, investindo na afetividade e solidariedade como papel de mediação primordial no mundo e com o mundo. São as racionalidades entrelaçadas com as emoções, segundo conceitos de Freire (1997) e Maturana (1998). Como não considerar os meios tecnológicos e comunicacionais na formação dos sujeitos escolares, se eles influenciam e criam possibilidades na sociedade em geral? Como não considerar as relações e os espaços sociais de aprendizagens não-presentes na educação tradicional? A incorporação do cinema aos processos educativos escolares pressupõe alterações na organização do trabalho pedagógico e escolar, e nas relações aí estabelecidas, muitas vezes dificultada pela engessada estrutura da maioria das escolas. A interlocução entre escola e cinema produz relações, cria sentidos e significados para os sujeitos escolares e promove aprendizagem a partir da vida cotidiana. Mas de que modo o cinema de vertente hollywoodiana, e sobretudo sua abundância, se repercute no seio das crianças e adolescentes, se levarmos em conta que, simultaneamente, o acesso a ele é realizado de modo fragmentado e descontínuo? Este será o tema de nosso próximo texto.
Referências bibliográficas
- FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. Saberes necessários à prática educativa. 7a ed. São Paulo: Paz e Terra, 1997.
- MATURANA, Humberto. Emoções e linguagem na educação e na política. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1998.
- REY, Fernando L. González. La categoria del sentido subjetivo y su significación en la construcción del pensamiento psicológico. Contrapontos. v. 1, no. 2, Itajaí, SC, (13-28).
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