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Páscoa

Aqueles que descobriram como atrair um mamute a beira do abismo aprenderam algo muito importante. Os que fizeram despenhar a manada inteira aprenderam demais porque depois de um breve período de festança passaram fome. Isto pode ser uma síntese da História Humana. Sabe-se que civilizações como a Suméria viriam a dar origem ao actual Iraque, sempre pelo mesmo motivo: crescimento desmesurado da população, baseado na crença da abundância eterna proporcionada pela agricultura. Em vários pontos do globo, as civilizações agrícolas estabeleceram uma rigorosa divisão entre possuidores, ou não, da terra. Também estabeleceram uma hierarquia social tipo piramidal. Curiosamente, estudos básicos de Biologia demonstram que um dos caminhos tende a ser a irrigação desenfreada e a consequente salinização dos solos. Foi isso que aconteceu nas terras que são hoje Iraque. Isso está a acontecer também no actual Egipto, não tendo acontecido antes porque a população, durante milénios, se manteve estável. A ilha de Páscoa é um curioso exemplo. Sabemos hoje que os seus habitantes aumentaram em número para além de tudo o que deveriam ter feito; construíram estátuas de pedra gigantescas para o que chegaram ao ponto de destruir toda a madeira que tinham disponível. Em 1722 os Holandeses avistaram-na a madeira que fazia falta causara o fim da pesca. Sabe-se que houve guerras entre os habitantes, os animais restantes foram devorados e no fim havia mais de mil grandes estátuas "Moai". No livro "Easter Island, Earth Island" Paul Bahn e John Flenley dizem: "os ilhéus permitiram um crescimento ilimitado da população, destruição do ambiente e confiança sem limites na religião para tomar conta do futuro. (?) Será a personalidade humana sempre igual à da pessoa que abateu a ultima árvore?" (1) Será o actual modelo civilizacional de esgotamento de recursos a que se convencionou chamar "globalização" uma repetição à escala planetária uma repetição da Ilha de Páscoa? Parece evidente que sim.

(1) P. Bahn e J. Flenley, "Easter Island, Earth Island" Londres, Thames and Hudson, 1992.


  
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Edição:

N.º 167
Ano 16, Maio 2007

Autoria:

Carlos Alberto Mota
Univ. de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), Vila Real
Carlos Alberto Mota
Univ. de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), Vila Real

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