Há alunos que se questionam sobre o sentido da educação que lhes é imposta, fazendo-o, muitas vezes, de modo turbulento e agressivo. Perrenoud (1995: 112) refere que a criança é frequentemente tratada como "tendo um comportamento desviante, imaturo, ou, pelo contrário, demasiado adulto para a sua idade". Por isso é necessário conhecer o sistema de comunicação entre a família e a escola (Perrenoud 1995: 90). Perante os insucessos da educação para todos, vão surgindo orientações educativas para se respeitar e potenciar a diferença na aprendizagem. Segundo Luísa Cortezão (2000: 45), "[?] este processo exige que os professores conheçam os seus alunos. Exige que eles tenham estudado as crianças com quem trabalham [?]." Por outro lado, a frequência da escola para todos tem como consequência directa a transformação dos problemas sociais em problemas escolares (resultantes da pobreza, do desemprego, da desigualdade de classes, toxicodependência, violência juvenil, sida, desestruturação social, exclusão social, etc.). Isto leva a que se pense no alargamento das funções dos professores, perspectivando a profissão como algo próximo do trabalho social (Teodoro, 2006) ou, em alternativa, a pensar em novos profissionais para actuar na escola a par dos docentes (Silva, 2003). No tratamento da diversidade cultural na sala de aulas, a escola tem mantido uma posição hegemónica ao ver a diferença apenas do lado dos alunos, como algo a alterar. Raras vezes se pensa no que se deve mudar na própria escola para a todos acolher sem discriminar. Esta é uma mudança paradigmática que obrigaria o professor a trabalhar fora da sala de aula porque é do lado de lá que provêm as mentes culturais que se encontram na escola. E esse trabalho não é, por excelência, o papel tradicional do professor. A diferença que está na sala de aulas é uma diferença individual no sentido psicológico da coisa, mas é também uma diferença pessoal (simultaneamente individual e grupal), social e cultural, o que implica pensar não apenas no aluno, mas na pessoa do aluno, que não está só na escola, mas, também, entre a escola e o lar (Vieira, 1992; Perrenoud, 1995). Isto obrigaria a outro trabalho que denominamos de mediação escolar. De facto, estabelecer contactos e comunicação com a rede familiar e comunitária do aluno é vital. "Os mediadores profissionais, sobretudo aqueles que do ponto de vista funcional e de competências estão mais próximos dos utentes e do seu contexto geográfico e social de proveniência, desenvolvem esforços de articulação e de promoção de redes de proximidade, articulando redes de solidariedade formal e informal. Estabelecem contactos com familiares, amigos, vizinhos, [?] ". (Almeida, 2004: 46). E o professor, por muito multifacetado que seja, não está preparado para este tipo de trabalho, embora, por vezes, o tente fazer por voluntarismo e disposição cultural. Assim, é sobre a profissionalização de mediadores escolares que falaremos numa próxima vez.
Referências Bibliográficas:
- ALMEIDA, Helena Neves, (2004). "A recomposição dos laços sociais ? uma mediação expressiva e instrumental na luta contra a exclusão social" in CUNHA, Pedro (org.) (2004), Actas do colóquio de mediação. Uma forma de resolução alternativa de conflitos, Porto, Universidade Fernando Pessoa.
- CORTESÃO, L. (2000). Ser professor: um ofício em extinção? Reflexões sobre as praticas educativas face à diversidade, no limiar do séc XXI, Porto, Edições Afrontamento.
- CUNHA, Pedro e CARLA Lopes (2001), "Em torno do conceito de mediação" in ANTROPOlógicas, ,nº 5 , Porto, Universidade Fernando Pessoa.
- PERRENOUD, Philippe (1995). O Ofício de Aluno e o Sentido do Trabalho Escolar, Porto: Porto Editora.
- SILVA, Pedro (2003). Escola-Família, uma Relação Armadilhada ? Interculturalidade e Relações de Poder, Porto: Edições Afrontamento.
- TEODORO, António, 2006, Professores para quê? Mudanças e desafios na profissão docente, Porto: Profedições.
- VIEIRA, Ricardo (1992). Entre a Escola e o Lar, Lisboa: Escher.
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