1. Formação Holística
Muitos dos métodos de autodesenvolvimento apontam no sentido de estimular a consciência sensorial e articular o hemisfério esquerdo e o hemisfério direito para uma educação artística que ligue actividade motora com actividade intelectiva. A arte, em geral, (movimento rítmico, pintura, modelagem e desenho) ajuda à nova abordagem criativa que é relacional e convivial, opondo-se à separação entre emoção e inteligência. Vejam-se os trabalhos de Johan van Lengen (1) no TIBÁ, Brasil, onde uma formação sistemática tem vindo a ser feita dentro desta metodologia pedagógica. Veja-se ainda na Alemanha, na Universidade Allanus e na Suécia, em Jarna, bem assim como na Suíça, em Dornach, como sob o impulso da pedagogia de R. Steiner(2) se promove a formação transdisciplinar e uma metodologia artística veiculada pela prática de euritmia, pintura, música, teatro e arte da palavra. Muitas destas experiências pedagógicas ou outras similares, tinham vindo a ser experimentadas desde os anos dez-vinte em várias escolas:
- No Instituto Dalcroze, na Alemanha, na cidade-jardim de Hellerau, construída pelo arquitecto H. Tessenow, Emile Jacques-Dalcroze pôs em prática um ensino em que música, luz e dança rítmica funcionavam como uma formação preliminar à "gesamtkunstwerk" [obra de arte total];
- Nos vários institutos pedagógicos, ligados ao movimento da vanguarda soviética (3), Vkhutemas entre outros, promoveu cursos para arquitectos, designers e artistas em que pintores, homens de teatro e sociólogos se preocuparam com uma didáctica global nessa formação. Alexandre Rodchenko, Melmikov, Lissisnsky, M. Guinzburg no design e na teoria das cores e as ideias de teatro e exercícios de biomecânica ligadas aos trabalhos de Mayer Hold.
- Na Bauhaus(4), Alemanha, fundada por W. Gropius, o "workurs", sob a orientação de J. Itten, baseava-se numa formação polivalente e artística. Este curso propedêutico foi evoluindo ao longo da vida da Bauhaus e nele se inseriram M. Naguy, Albers, etc.
- Em Taliesin, E.U.A., Frank Lloyd Wright e Olgivanna, sob o impulso dos "trabalhos" de Gurdjieff, promoveram também uma formação deste tipo. O teatro, o trabalho agrícola e a construção manual de protótipos eram algumas das tarefas de formação.
As investigações de Damásio, Goleman e David S. Schreiber(5) retomam investigações científicas sobre outras práticas já antigas e intuitivamente ensaiadas por muitos pedagogos e correntes espirituais. A inteligência emocional está a dar passos para essa génese de um pensamento orgânico.
2. Biomimetismo
Por outro lado muitos trabalhos têm sido feitos no sentido de se investigarem "modelos" úteis à humanidade a partir de modelos naturais. A biónica ou o biomimetismo são assim metodologias cada vez mais utilizadas por investigadores e designers. Observando as soluções encontradas pela natureza, podemos também aprender a lógica interna das formas. Essa atitude encontra-se em Leonardo da Vinci quando procurou no voo dos pássaros a solução para as máquinas de voar. Também em Goethe encontramos a tentativa de descobrir a lógica interna da natureza com o estudo da metamorfose das plantas.
3. Prospectiva e Visualização
Outra metodologia em que se procura ter uma atitude futuroscópica é a prospectiva. Apresenta riscos quando é uma pura transposição mecânica de etapas do passado no futuro. É que muitas vezes o futuro não advém duma evolução linear e gradualista. As rupturas, as multiplicidades de cenários e sobretudo uma interpretação viva e orgânica do presente permite decifrar os sinais do futuro, que já estão presentes. O estudo atento desses sinais engendra utopias concretas e permite a visualização aproximada do devir futurante. Dieter Magnus(6) realizou um método de abordagem sensível para o urbanismo e o paisagismo tornando visível, duma forma imagética, cenários possíveis de um lugar real. Através de fotomontagens ou de pinturas criam-se outras realidades possíveis dos sítios, antevêem-se outras imagens possíveis dum devir desejável, uma metodologia que pode tornar-se participada pois graças a este procedimento criativo, podem-se comparar múltiplas "imagens-desejo". Com esta metodologia, além de se visualizar o objectivo final que se pretende, podem-se visualizar ainda as etapas para a sua concretização, mostrando o faseamento, no tempo, da obra a executar.
1) Johan van Lengen, "Manual do Arquitecto Descalço", Ed. Tibá e Papéis e Cópias, Brasil, 1996 2) Jacinto Rodrigues, "Arte e Arquitectura em R. Steiner", Ed. Civilização, Porto, 1990 3) Jacinto Rodrigues, "Urbanismo e Rebolução", Ed. Afrontamento, Porto, 1976 4) Jacinto Rodrigues, "A Bauhaus e o Ensino Artístico", Ed. Presença, Lisboa, 1989 5) David Servan-Schreiber, "Curar", Ed. D. Quixote, Lisboa, 2004 6) Dieter Magnus, "Kunst & Natur Landschaften", Ed. Goethe Institut e Unesco, 1992
Nota: A segunda parte deste texto publica-se no próximo número
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