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Crescimento da comunidade hispânica é um desafio para os americanos negros

O crescimento da comunidade hispânica como primeira minoria dos Estados Unidos representa um desafio para a comunidade negra, que recentemente uniu a sua voz aos militantes anti-imigração mais radicais para pedir a expulsão dos ilegais.
Ted Hayes, porta-voz das milhares de pessoas sem-abrigo que dormem nas ruas de Los Angeles, qualifica a imigração ilegal como "o maior perigo que ameaça os negros nos Estados Unidos desde a escravidão". Segundo Hayes, a vinda de imigrantes da América Latina "é uma das razões pelas quais os negros vivem sem casa (...) porque nos negamos a trabalhar por salários miseráveis". Este activista afirma não ter nada contra os legais e apoia a luta dos mexicanos pelos seus direitos, mas "no México".
Estas declarações estão em sintonia com a do grupo de extrema-direita "Minuteman", que vigia a fronteira mexicana e organiza manifestações, até agora esporádicas, contra os ilegais.
Para o analista da comunidade negra Earl Ofari Hutchinson, este tipo de opinião não deve ser generalizada, embora reconheça que causa mal-estar. "Os grupos de defesa das liberdades da comunidade negra tomaram posições favoráveis a uma reforma liberal da imigração. No entanto, um número importante de negros pensa o contrário", explica Ofari Hutchinson.
Para Vernon Briggs, professor da Universidade de Cornell, Nova Iorque, e co-autor de um livro, publicado em 2004, sobre as consequências da imigração na comunidade negra americana, a tese de que os ilegais latino-americanos tiram o trabalho dos negros é totalmente válida. "Os ilegais estão em competição directa com os negros, tanto no plano geográfico como no que se refere ao mercado de trabalho", disse Briggs.
Segundo este analista, "ninguém consegue competir contra os ilegais em termos de concorrência?, já que os cidadãos oriundos de países pobres como El Salvador e Guatemala, dispõem-se a trabalhar por menos da metade do salário aceite pelos negros. "Enquanto um operário negro pede 20 dólares por hora, um operário latino-americano está disposto a receber 8 dólares", sustenta Briggs.
Hutchinson, por sua vez, adverte que esta situação é como uma bomba relógio, sobretudo tendo em conta as mudanças demográficas registadas nos últimos anos, com a perda de posição dos negros como maior minoria étnica dos Estados Unidos (12,9% da população americana é negra e 14,1% hispânica), fazendo com que  a comunidade negra também esteja à beira de passar para segundo plano em termos de peso eleitoral.


  
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Edição:

N.º 157
Ano 15, Junho 2006

Autoria:

AFP
Agence France-Presse
AFP
Agence France-Presse

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