É utópico afirmar sobre a possibilidade de construir a educação que queremos, diante da imensa desprofissionalização e precarização acometidas no nosso trabalho, principalmente, com a crise do modelo taylorista/fordista de produção e acumulação do capital. Problemas como: arrocho salarial, perda de garantias trabalhistas e previdenciárias, pressão pedagógica por conta de modismos (?transversalidade curricular?, ?pedagogia de projetos?, etc.), avaliações autoritárias e meritocráticas, desqualificação da função social da escola são muitas vezes apresentados como algo natural, gerando, por um lado, insegurança e desamparo nos trabalhadores da educação e, por outro, ausência de condições de trabalho adequado. Neste contexto, grande parte dos trabalhadores da educação não dispõe de nenhum tipo de convicção que os anime a agir em prol da construção da tão sonhada escola que queremos. Não bastasse, ideologicamente, a política da não política tem fundamentado e orientado as relações sociais estabelecidas inter e extra escola. Num clima de evocação a-histórica, posições conservadoras têm procurado consolidar um perfil de educação e de trabalhadores que nada mais tem a ver com as utopias revolucionárias e transformadoras de outrora. Por tudo isso, objetiva e subjetivamente a construção da escola que queremos é um desafio. Os trabalhadores da educação e a própria instituição pública responsável pelo ensino de milhares de filhos de trabalhadores têm assumido atribuições que estão além de suas funções, propiciando um sentimento de fracasso e incompetência, ocasionando a perda da natureza do trabalho escolar e de seus profissionais. Por que e para que ensinar? É tirada a essência tanto das instituições educativas quanto dos trabalhadores da educação, ocasionando o desânimo e a descrença na possibilidade de superação e construção ao que está posto. O que nos resta fazer? Sobreviver a mais um ano escolar? A quem interessa a escola pública? O que fazer contra a desprofissionalização e precarização e aviltamento do nosso trabalho? Propomos um momento de reflexão sobre a necessidade de reinvenção da política, ou melhor, de devolver à política o seu sentido de expressão da condição humana de se relacionar, de intervir, de fazer história. Mas é necessário abrir mão de idéias salvacionistas; a luta pela emancipação social só faz sentido quando conduzida por e articulada com movimentos coletivos que, forjados no espaço da contradição, se encaminhem no sentido da construção da hegemonia dos trabalhadores, visando desnaturalizar as diferenças entre os possuidores e os despossuídos da riqueza social. Há os que dizem que só a escola pode mudar essa realidade. Esses são os cínicos. Há os que dizem que a escola nada pode fazer nesse sentido; há ainda os que dizem que o que a escola pode fazer é muito pouco. Entre esses estão alguns que acreditam na mudança, mas desqualificam, de certa forma, os sujeitos históricos que trabalham e estudam nas escolas. Há os que, buscando superar as falsas dicotomias, compreendem a escola como um espaço social que, consoante a totalidade que o engendra, está repleto de contradições e, por isso, é potencialmente conflituoso. Estamos entre os que assim pensam. Desfeita a idéia da escola como um espaço pintado em tons pastéis e negado o mito da escola como o calabouço do capitalismo, propomos o empenho para a identificação das ações no interior da escola que possam contribuir, de dentro de seus limites, para a consolidação de um projeto social emancipatório, cada dia mais urgente, diante da barbárie que engrandece. E se nos propomos a educar os sujeitos históricos desse processo, ao mesmo tempo em que nos educamos e enfrentamos as contradições e os conflitos, não podemos ficar apáticos. Isso encoraja o trabalho e dá sentido à utopia.
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