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Afinal, os terroristas quem são?

Estes dias que vivemos, parecem estar cheios de tristezas, injustiças e lágrimas, bem como de solidariedades, declarações, debates, uso da razão, uso das emoções. É um falar constante dos acontecimentos que sobre nós caiem. Corpos mortos, corpos feridos, fuga do perigo, vida de terror. A resposta à pergunta do título podia ser simples: os que matam sem motivo ou sem motivo aparente provocam depressão a outros seres humanos. Se quisermos uma lista do terror sobre os seres humanos, basta-nos ler o jornal e ver que desde 2002 em Bali, até ao dia 7 de Julho deste ano, ocorreram oito actos denominados terroristas e, consequentemente, tivemos mortos, feridos, seres tristes... um mundo dividido.
A pergunta tem outra resposta. Não é para entrar na História da Humanidade, aquando Eva seduz Adão para ser divino, Caim mata Abel, Noé constrói um imenso barco para fugir das águas dos mil dias, as guerras. Ou, definir a luta de classes. Não apenas à Marx de 1864, ou Durkheim de 1888 e também Mauss de 1923: ?Toda a nossa legislação de segurança social, este socialismo de Estado, se inspira no princípio seguinte: o trabalhador deu a sua vida e o seu trabalho à colectividade por um lado, aos seus patrões por outro (?) os que beneficiaram dos seus serviços não estão quites com ele através do pagamento do salário. [Deve-se-lhe], uma certa segurança na vida, contra o desemprego, contra a doença, contra a velhice e a morte?, como escreve de forma mais extensa na página 187 da versão portuguesa de 1988. Parágrafo fundamental para entender a questão que abre o texto, para ajudar a explicar os factos que nos aterrorizam e nos enchem de raiva, tristeza e incompreensão.
O terrorismo não aparece de entidades desconhecidas. Ele surge do lucro que os grupos mais ricos são capazes de organizar nesta vida. Não é em vão que um dos atentados, o mais recente, acontece na abertura da cimeira dos G8, o mesmo é dizer, o dia que começam os trabalhos dos oitos grupos sociais mais ricos do mundo para pensar como acumular processos de mais valia entre o operariado e assim desenvolver tecnologia, ganhar três recentes e violentas guerras, retirar riqueza da força de trabalho universal, serem capazes de juntar água e azeite em Gaza, etc. Os Presidentes Socialistas  não são derrubados: todos são socialistas hoje em dia e, quando houve um primeiro nos anos 70 do Século XX, foi assassinado. De comunistas, nem falar: o muro de Berlim caiu nos anos 80 do Século XX e o Papado conseguiu deter invasões dentro de Europa nos anos 90: Karol Wojtila, como hoje sabemos, telefonou para um número do Kremlin e  a Polónia ficou livre...
A luta de classes, também defendida por Émile Durkheim em 1882 e 1903, consiste em desfazer a força de trabalho, retirar os seus meios de transporte, impingir medo numa população que procura companhia, reciprocidade, colaboração, poupança, trabalho, desenvolvimento, carinho, reprodução, família. Descanso nos dias devidos e obras-primas nos de trabalho. Essa é a população atingida para ferir o lucro dos mais ricos, destruir a tecnologia e tornar a construir o que antigamente apenas as guerras desfaziam: a materialidade da vida. Vi a 7 de Julho um Londres de milhares de habitantes, voltar a pé na denominada hora de ponta. Sem uma queixa, sem um pranto, sem revolta. Diferente de Atocha, que derrubou a gestão de um dos 8, ou de Nova Iorque, que até ao dia de hoje semeia o pânico na população, enquanto mantém uma guerra que é aceite e participada, pelo denominado G8, terrorismo. Conceito calmamente não exibido nos media, nos dias seguintes, os de volta ao trabalho.
Terrorismo pago pelo próprio povo que caminha em novos impostos, em mortos, em feridos a cuidar. Ideias e factos para comentar desde muito cedo com os mais novos, retirar-lhes o medo, explicar as diferenças de comportamento entre islâmicos e cristãos e o respeito que estas ideias causam. Esta deveria ser a primeira aula de toda a pequenada em qualquer língua. Na medida em que o trabalho retira mais valia ao autor da obra, acumula lucro a grupos governados pelo G8, que a seguir, reconstrói a tramóia operária na base do conceito Pátria e Nação, paga das poupanças dos que, no dizer de Mauss, não estão quites com o seu Estado.
A dor é grande ao reparar quem é o terrorista e o uso que se faz do conceito para virar de avesso a guerra entre classes, culturas e religiões. Mais uma vez, ficamos de luto....


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 148
Ano 14, Agosto/Setembro 2005

Autoria:

Raúl Iturra
Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa, Lisboa
Ana Paula Vieira da Silva

Raúl Iturra
Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa, Lisboa
Ana Paula Vieira da Silva

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