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Educação física

Ao director de a Página
Caro Colega

Sou professor de Educação Física há cerca de 12 anos. Queria comentar um tema  constantemente subvalorizado e que diz respeito à minha área profissional, a Educação Física. Isto numa altura em que se fala muito da importância do Desporto Escolar quando este só faz sentido se a disciplina de Educação Física contiver os pressupostos fundamentais para o seu sucesso o que não se verifica. É bom lembrar que o Desporto Escolar e a disciplina de Educação Física ocupam o mesmo espaço físico.
Parto do princípio que a Educação Física é a essência do desporto nas  escolas e quando esta não atinge os objectivos, não adianta, melhor, só prejudica, apostar no complemento que é o Desporto Escolar. Valorizar esta área quando a principal é subaproveitada é inverter os valores, tentando-se transmitir uma falsa imagem de qualidade e modernidade.
Uma outra realidade é o crescente aumento dos precoces problemas de saúde nos nossos jovens como os diabetes, a obesidade, o tabagismo, o álcool entre outros. E que soluções preconizam? Apostam no Desporto Escolar que abrange numa perspectiva optimista, 15% da comunidade escolar em vez de valorizar a disciplina de Educação Física que abrange quase 100% da comunidade escolar.
Fica bem e é bonito desenvolver o Desporto Escolar, mas não contribui para a  melhoria do nível de desenvolvimento e crescimento saudável dos jovens.
Estou convencido que na maioria dos governos que tivemos desde que existe a democracia ? mais para trás não posso avaliar ?  que sempre se olhou para a Educação Física como uma disciplina mais de lazer do que uma disciplina curricular na sua verdadeira acepção da palavra. Estou convencido que essa atitude pegou de estaca na maioria das nossas escolas, com culpas de todos nessa situação.
É uma realidade que pode ser facilmente transformada e que passo a explicar. Na maioria das aulas, num mesmo pavilhão, elas decorrem com a presença de três turmas em simultâneo. Isto perfaz, numa perspectiva optimista, 60 alunos em simultâneo no ginásio!
É fácil concluir quais são as condições para se desenvolver uma aula minimamente credível e útil para os jovens, ou seja, muito limitadas. Que esforço físico faz o aluno de forma adequada nestas condições? Que planeamento é possível fazer por parte do docente nestas condições? Que estrutura prática-motora adequada é possível fazer nestas condições? Quantas calorias gasta um aluno numa aula nestas condições?  O que aprende um aluno nestas condições? Que motivação tem este aluno nestas condições ?
Todavia, numa análise cuidada à realidade das escolas é fácil concluir que é possível ? e isto é muito importante ?  a realização das aulas com apenas duas turmas presentes em simultâneo num ginásio, ou pavilhão e isso faz toda a diferença, quer para os alunos, quer para os professores.
Para isso basta que os horários sejam feitos tendo em conta esta situação.  Se na elaboração dos horários tivermos em conta estas realidades, se fizerem os horários tendo em conta os interesses dos alunos, é perfeitamente possível fazer os horários de forma a estarem apenas duas turmas em simultâneo num pavilhão e, repito isso faz a diferença.
Se os horários forem bem elaborados ainda sobram horas para o Desporto Escolar. Repito: É URGENTE RECTIFICAR OS HORÁRIOS.
Numa sociedade como a nossa cada vez mais sedentária, invadida por divertimentos e passatempos tecnológicos que convidam ao imobilismo físico, continuar a olhar para a Educação Física como uma disciplina de segunda importância é um erro crasso que um dia a Saúde Pública das novas gerações se encarregará de mostrar.
Cordiais cumprimentos


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 146
Ano 14, Junho 2005

Autoria:

Sérgio Cunha Machado Augusto
Professor de Educação Física. Leitor do jornal a Página da Educação.
Sérgio Cunha Machado Augusto
Professor de Educação Física. Leitor do jornal a Página da Educação.

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