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À procura da identidade

ENSINO SECUNDÁRIO

?...O fosso entre ricos e pobres é cada vez maior, também em Portugal?
Sim. A proporção entre os rendimentos dos 20% mais ricos e os 20% mais pobres é a mais elevada da U.E.
O Sistema Educativo é responsável?
Qualquer sistema educativo reproduz  as classes médias  e altas, não serve as famílias pobres. Utilizam métodos pedagógicos que pressupõem coisas que os pobres não têm. Os professores não estão preparados para os integrar.?

Bruto da Costa , sociólogo,
em entrevista ao D.N. de 10/Dezº/2004

É sabido que o investimento público na criação de escolas, nas últimas décadas, procurou dar resposta às necessidades educativas nacionais, nomeadamente no ensino secundário. Atente-se no quadro que segue que é ilustrativo do que acabo de dizer:

Estabelecimentos de Ensino em Portugal

Anos

2º e 3º ciclos e Ensino Secundário

Totais

Oficial

Particular

1960-1961

282

469

19 077

1970-1971

506

1444

49 138

1980-1981

2182

528

116 647

1991-1992

2 943

664

172 463

Fontes: Estatísticas da Educação(INE) e DEPGEF

Os dados conhecidos são claros no incremento do ensino básico (2 º e 3º ciclo) e ensino secundário em Portugal, no aumento de escolas, de alunos e professores, em detrimento da redução do investimento no 1º ciclo. Este alargamento da frequência escolar contribuiu para a massificação do ensino. Ultrapassou-se a dicotomia liceu /escola técnica (industrial e comercial), criando-se as escolas secundárias, onde se constituíram os múltiplos cursos, num esforço significativo de responder aos novos desafios. O anátema colocado sobre o ensino técnico e profissional (como exemplo de discriminação negativa) terá contribuído para que os cursos tecnológicos fossem menos escolhidos e constituíssem o parente pobre da rede de escolas secundárias. Em suma, foi-se ?licealizando? as escolas secundárias.
Hoje, as necessidades de docentes são cada vez menores e, a procura de emprego é muito superior à oferta. Além disso, há um decréscimo significativo de alunos, invocando-se a taxa de natalidade como a grande responsável, aliada também às mobilidades sociais para as periferias dos grandes centros urbanos e, o encerramento ou fusão de escolas secundárias. A resposta dos dois últimos ministérios da Educação (de David Justino e Maria do Carmo Seabra) foi clara: necessidade de colocar a ?sociedade civil? a colaborar no esforço de liberalizar as escolhas e privilegiar o mérito de quem frequenta a escola.
Insistiu-se na divulgação dos glamorosos ?rankings das escolas?, apoiados nos resultados dos exames nacionais do 12º ano, em prejuízo das avaliações integradas das escolas que se tinham efectuado anteriormente. Decretou-se o «libera»l direito de escolha da escola que se deseja frequentar, incentivando uma nova dicotomia. E porquê?
Não se retomarão os liceus e as escolas técnicas, mas provavelmente vão subrepticiamente nascendo escolas secundárias  de 1ª e escolas de 2ª. As taxas de insucesso e, sobretudo, de abandono escolar, neste sector de ensino, passarão a ser encaradas numa perspectiva assistencialista. A ?licealização? das escolas de referência (ou seja, as que ocupam os primeiros lugares do ?ranking?) será evidente no incentivo da corrida às instituições do ensino  particular, em prejuízo das escolas públicas. Não consta que aquelas invistam nos cursos técnicos e profissionais.
A  polémica em torno do rumo a tomar pela Escola em Portugal entre ?Filhos de Rousseau? e Filomena Mónica torna-se cada vez mais actual.
Será que queremos uma Escola para todos ou, pelo contrário, todos na Escola? Nesta perspectiva, como entender o alargamento do ensino obrigatório até ao 12º ano?


  
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Edição:

N.º 141
Ano 14, Janeiro 2005

Autoria:

Fernando Santos
Escola Secundária de Valongo
Fernando Santos
Escola Secundária de Valongo

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