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E porque não umas férias diferentes?

Numa altura em que a maioria dos portugueses vai para férias, a PÁGINA quis saber que destinos procuram e que tipo de alternativas se oferecem às habituais actividades de lazer neste período estival. Para encontrar respostas a estas perguntas entrevistamos Pedro Meireles, promotor do chamado "turismo de aventura", uma área que tem vindo a crescer no nosso país nos últimos anos e que garante, ao que parece, umas férias diferentes do habitual. Fica a sugestão.

Que motivos o levaram a iniciar-se na área do turismo de aventura?

A área da recreação e do lazer, em particular o turismo associado às actividades ditas ?radicais?, é um mercado que tem crescido em Portugal nos últimos anos. As pessoas já não se satisfazem em passar férias num local mais ou menos paradisíaco para descansar e apanhar sol e procuram actividades que as levem a experimentar emoções fortes em contacto com a natureza, como o rafting (descida de rios com barcos pneumáticos), a escalada, o montanhismo, o tracking (percursos em grupo por trilhas pré-definidas no monte ou na montanha), entre outras.
Penso que esta atitude se insere, de certa forma, no facto de se encarar cada vez mais o desporto e o contacto com a natureza como uma parte importante da vida, algo que estas actividades reúnem numa só prática.

O que proporcionam de diferente estas formas de lazer em relação às tradicionais actividades de férias?

O prazer da descoberta, a maior proximidade com os elementos da natureza, o facto de nos testarmos a nós próprios, sabermos até que ponto conseguimos ultrapassar os nossos próprios limites, enfim, descobrirmo-nos melhor a nós mesmos. Julgo que quem opta por este tipo de actividades de lazer não é seguramente o mesmo tipo pessoa que gosta de ficar de barriga para ao ar a ?tostar? ao sol? O certo é que muitos daqueles que experimentam pela primeira vez este tipo de actividades ao ar livre acabam por regressar.

Mas reconhece que não são actividades acessíveis a qualquer bolsa?

Julgo que tudo depende das opções de cada um. Há quem considere que o dinheiro empregue em dez dias numa destas actividades se torna mais proveitoso em relação àquilo que gastaria em quinze dias na praia. De qualquer maneira, sim, há que admitir que algumas delas são dispendiosas, essencialmente pelo material envolvido, que está sujeito a um grande desgaste e necessita de ser reposto regularmente, em especial o rafting e a escalada.
Por outro lado, julgo que o crescente número de empresas dedicadas a esta área do turismo levará a que os preços baixem cada vez mais. Claro que isso implica o outro lado da moeda, isto é, levar a que nem sempre a qualidade esteja assegurada, mas penso que os próprios clientes se vão apercebendo de quem oferece qualidade e de quem está nesta actividade só pelo negócio.

Quais têm sido as actividades mais procuradas neste Verão?

Os portugueses têm aderido cada vez mais às actividades de campo por oposição à praia. Poderia até dizer-se que a praia está ?fora de moda?? (risos). O facto é que a procura, seja pelo turismo de habitação e pelo turismo rural, seja pelas actividades que têm lugar no rio e na montanha, tem aumentado exponencialmente.
Esta modalidade tem a vantagem de rentabilizar os meses de época baixa - que cada vez mais se tornam tão ou mais apetecíveis relativamente aos da época alta. E isto tanto é bom para os operadores turísticos, que conseguem rentabilizar a sua actividade ao longo do ano, como para o próprio mundo rural português, que desta forma pode também ele dar-se a conhecer e retirar proventos da sua interioridade.
Curiosamente, e apesar da instabilidade política que se vive hoje em dia nos países árabes, a procura pelos passeios organizados ao deserto marroquino, por exemplo, não sofreu qualquer diminuição, tendo vindo, pelo contrário, a conhecer uma ligeira subida. Diria que os portugueses são aventureiros?

Como operador turístico, como descreveria a procura turística dos portugueses?

Apesar de não estar ligado directamente ao agenciamento de viagens, e partindo das informações que vou recolhendo, a procura turística dos portugueses é aparentemente contraditória com a sua situação económica, já que, apesar da crise que se vive, a procura não diminuiu tanto como seria de esperar. Se é verdade que não tem crescido ao mesmo nível dos anos anteriores, também é verdade que as viagens de luxo, por exemplo, sofreram um aumento da procura.
Quanto ao turismo de massas, se assim lhe pudermos chamar, a procura mantém-se relativamente estável por comparação ao ano anterior. A nível externo, o Brasil passou a ser, sem dúvida, o local de eleição dos portugueses. A nível interno os destinos habituais: as praias do sul, com um ligeiro acréscimo, como já anteriormente referi, pelos destinos do interior rural.

Que conselhos daria a quem não tem possibilidades de fazer férias fora de casa?

Tendo em conta que a maioria da população portuguesa (julgo que aproximadamente 70%) é urbana, aconselharia as pessoas a descobrir melhor a cidade que habitam. No dia-a-dia passam-nos por vezes completamente desapercebidos certos locais ? como museus, parques, monumentos ? que são dignos de serem melhor conhecidos. Além disso, as próprias autarquias disponibilizam nesta altura actividades de lazer, muitas delas gratuitas, que podem ser aproveitadas por quem não tem dinheiro para férias. É um exercício curioso tentarmos ser turistas na nossa própria cidade. Só é preciso um pouco de imaginação.

Já agora: como vão ser as suas próprias férias?

Não conto ter férias tão cedo, pelo menos este ano. Para já vou-me dedicando a proporcionar férias a outros. Quando tiver disponibilidade conto fazer uma viagem à América do Sul, que é o continente que mais me fascina. Nessa altura espero poder recuperar o tempo perdido e viajar um pouco por toda aquela terra mágica, da Patagónia, no sul, aos Andes, no centro, acabando no planalto mexicano, a norte. Se conseguir realizar esse sonho acho que irá valer todo o tempo que não pude dedicar a mim mesmo.

Entrevista conduzida por Ricardo Jorge Costa


  
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Edição:

N.º 137
Ano 13, Agosto/Setembro 2004

Autoria:

Pedro Meireles

Ricardo Jorge Costa
Jornalista do Jornal A Página da Educação
Pedro Meireles

Ricardo Jorge Costa
Jornalista do Jornal A Página da Educação

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