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A escola - panaceia para os males sociais (I)

DESDE QUE EXISTA ORGANIZAÇÃO SOCIAL, OS INDIVÍDUOS TÊM QUE SER REGULADOS POR REGRAS SEJAM ELAS ÉTICAS, MORAIS, SOCIAIS OU JURÍDICAS.

As regras éticas estão a assumir cada vez mais importância na preocupação das instituições responsáveis. A sociedade tem sofrido alterações súbitas nas últimas décadas e isso tem-se reflectido nos comportamentos individuais e nas relações sociais, em muitos casos de forma negativa, conduzindo a um relacionamento conturbado e marcado por sérios atentados ao civismo e ao respeito pelo próximo. A formação cívica e a educação para a cidadania em geral emergem como tábuas de salvação para este naufrágio da moral e da ética. Resta saber se conseguiremos chegar a bom porto e construir um sólido paquete que resista às ondas da inveja, da intolerância, do individualismo, da desonestidade e outras tempestades psico-sociais.
A formação cívica inclui um conceito que pressupõe uma infindável lista de situações com que cada indivíduo se depara na vida em sociedade e uma correspondente lista de regras e valores a que ele deve obedecer para que se possa viver numa sociedade funcional, harmoniosa e em que se possa aplicar a velha máxima ?A liberdade de um acaba onde começa a do outro?. Esse conceito torna-se mais problemático quando se trata de incutir indelevelmente essas regras nos indivíduos, de forma a que tenham os desejados efeitos práticos. Entre esses valores contam-se a solidariedade, a participação, a tolerância, a cooperação, a inclusão, a não segregação, a entreajuda, o respeito, a responsabilidade, o altruísmo, a justiça, etc.
Reflectindo sobre estes conceitos e valores, e contrapondo-os com a realidade, depressa se verifica que a discrepância é tão grande que se vislumbra utópico lutar para que a sociedade funcione piamente baseada neles. Os casos de  completo atropelo a esses ideais chegam-nos todos os dias através dos nossos contactos pessoais, a nossa experiência profissional ou social, pelos meios de informação, pela observação directa de múltiplas situações. Das infracções mais leves como o carimbar o chão com fluídos pulmonares, até aos hediondos e imperdoáveis genocídios, passando pela violência doméstica, os conflitos profissionais e outras faltas de civismo, o diagnóstico é assustador. E, de onde mais se espera a profilaxia de certos comportamentos, é onde eles vão surgindo, cada vez com maior frequência - a escola. São sucessivos insultos a colegas, provocações, invejas; são inqualificáveis insultos, agressões, faltas de respeito e rebeldia gratuita face aos professores e funcionários; são conflitos raciais e xenofobia; são iniciações à droga e ao alcoolismo, sendo certo porém, que algumas destas práticas não são generalizadas, verificando-se mais numas escolas do que noutras. Desta forma, a escola surge cada vez mais descredibilizada face à opinião pública, aos encarregados de educação e até os próprios alunos se vão apercebendo disso progressivamente. E quantas mais expectativas se depositam na escola para resolver esses problemas e quanto mais a escola assumir que os deve resolver, mais a situação se agrava. São atribuídas à escola tantas funções e tarefas que ela acaba por não ter capacidade para acudir a tudo, principalmente enquanto não forem criadas condições para isso. Nessas condições, entre muitas outras, surge como primordial a formação inicial e contínua de professores, educadores e funcionários com ramificações aos próprios encarregados de educação.
Perante este cenário, pressente-se que temos pela frente um trabalho árduo, a executar quase a partir do zero, com problemas difíceis de vencer e com obstáculos que se prevêem intransponíveis. Com a agravante de não termos a certeza de que vamos conseguir ver os resultados desse esforço ou se conseguirmos, será a longo prazo. O que é certo é que não podemos ficar impávidos e despreocupados perante este conturbado relacionamento comportamental e social. E se não conseguirmos cumprir os nossos intentos cabalmente, pelo menos tentemos atenuar este estado de coisas e teremos pelo menos a gratificação de que tentámos. Por isso tem que se começar por algum lado, experimentando novas estratégias, modificando e reformulando o que tem sido feito, generalizando o mais possível estas práticas. 
O fomento da disciplina, do respeito e do bom relacionamento geral dos alunos entre si e com os adultos deve ser preocupação constante de qualquer educador ou professor. Geralmente isso é feito de forma casuística sem a preocupação de sistematizar as estratégias mais adequadas para o conseguir. Existem várias vertentes sobre as quais pode incidir a formação cívica e através delas se pode gerar e pôr em prática um programa de acção que contribua para a alteração e melhoria da conduta social na generalidade. A educação ambiental, a educação sexual, a educação para os valores, são algumas dessas vertentes. E como todas são importantes para a consumação da formação integral, desejàvelmente, todas deveriam ser exploradas ao longo da escolaridade em consonância com todas as outras instituições responsáveis.


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 129
Ano 12, Dezembro 2003

Autoria:

José M. A. Carvalho
Escola Básica 1 de Cubo. Agrupamento de Carrazedo Montenegro
José M. A. Carvalho
Escola Básica 1 de Cubo. Agrupamento de Carrazedo Montenegro

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