A N400 É A DESIGNAÇÃO DADA A ESSA NEGATIVIDADE QUE SE SUCEDE AO APARECIMENTO DE UM FINAL INCONGRUENTE NUMA LISTA DE PALAVRAS QUE COMPLETAM UMA FRASE.
O nosso cérebro responde electrofisiologicamente às violações da estrutura semântica ou sintáxica da linguagem, gerando uma componente negativa, com uma amplitude média de uns 6 mV e que aparece principalmente ante estímulos e tarefas relacionadas com o processamento verbal, numa latência que se inicia por volta dos 200 ms, tem o seu pico máximo em torno dos 400 ms e se prolonga pelos 500-600 ms. A N400, designação dada a essa negatividade que se sucede ao aparecimento de um final incongruente numa lista de palavras que completam uma frase, por exemplo, foi observada pela primeira vez por Kutas e Hillyard (1), que usaram situações experimentais baseadas em paradigmas de ?priming? semântico e que interpretaram o aparecimento deste componente como sendo ?um sinal electrofisiológico do reprocessamento de informação semanticamente anómala?.(2) O paradigma tradicional para a observação da N400 consiste na apresentação de frases em que a última palavra poderá ser semanticamente congruente ou incongruente com o contexto geral. Por exemplo, poder-se-á contrapor à frase "esta noite não dormi nada porque o bebé chorou" a frase incongruente "esta noite não dormi nada porque o bebé telefonou". Por outro lado, a N400 também parece verificar-se quando o sujeito escuta pares de palavras e a segunda palavra do par não se relaciona com a primeira (3) e, em geral, a sua amplitude é maior quando o significado da frase que se apresenta como estímulo é ambíguo, quando uma palavra está incorrectamente escrita ou não se conhece o seu significado ou quando uma frase afirma algo que não é correcto, sendo tanto maior quanto mais acentuadas forem essas incongruências (4, 5). A N400, no entanto, também é evocada pelo aparecimento de uma imagem anómala num contexto sequencial de imagens relacionadas (6, 7) o que parece indicar que os seus correlatos psicofisiológicos vão mais além do que a mera incongruência semântica e poderá mesmo ser um sinal indicativo de qualquer desajustamento conceptual num contexto de conceitualização categorial. Estas características da N400 tornam-na, por isso, numa ferramenta hoje essencial nos estudos das perturbações da leitura (dislexia) ou da linguagem, no estudo das situações de demência como a doença de Alzheimer, no estudo das dificuldades comunicacionais em casos de autismo e até nos estudos de psicologia criminal, nomeadamente na tentativa de identificar falsos depoimentos ou na descoberta de criminosos que negam os seus crimes.(8)
Referências Bibliográficas
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Kutas, M. & Iragui, V. (1998) The N400 in a semantic categorization task across 6 decades, Electroencephalogr Clin Neurophysiol, 108, 456-71.
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- Neshige, R., Kuroda, Y., Kakigi, R. et al. (1991) Event-related brain potentials as indicators of visual recognition and detection of criminals by their use, Forensic Sci Int, 51, 95-103.
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