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Educação intercultural: a descoberta do outro

passa necessariamente pela descoberta de si mesmo

Face a um conceito rígido que pretendendo respeitar todas e cada uma das culturas, as acaba paralisando e isolando umas das outras, não considerando sua evolução através, precisamente, do contacto entre elas, torna-se imperioso um posicionamento claro da educação intercultural. Tal contacto, evidentemente, deve ocorrer em condições de igualdade e justiça, não de dominação/subordinação.

A educação intercultural não pode assumir toda a responsabilidade na implementação da justiça social necessária, mas pode sim, mediante os mecanismos pedagógicos e escolares, propiciar a interacção dialógica entre culturas, num clima democrático que defenda o direito à diversidade no marco da igualdade de oportunidades, flexibilizando os modelos culturais que se transmitem na escola.
Ela possibilitaria aos alunos disporem de uma maior riqueza de conhecimentos e valores culturais, próprio e alheios, enriquecendo crítica e reflexivamente não só seu desenvolvimento integral enquanto pessoas mas também propiciando sua conscientização e acção social solidária.
Nós, professores, sabemos que não somos independentes; que somos sujeitos sociais, determinados pela sociedade. Sabemos também que, apesar da determinação social, há em todos a condição inédita de sermos uma consciência que troca com o meio e, ao mesmo tempo, transforma esse meio e se transforma. Sabemos que o outro também é assim e, nessa condição, interagimos com todos os outros. Sabemos que se todos criamos ao mesmo tempo, sem acordo, colocamos o mundo comum em risco. Dessa forma, estamos sempre construindo acordos para fazermos juntos o melhor para todos. Esse é o nosso ideal como educadores.
Esse ideal nos informa da relação complexa entre o ?eu? professor, conservador e criador, e o ?eu? aluno, que deve criar uma forma pessoal de aprender o que foi conservado por várias gerações, para criar um mundo melhor. Essa é a nossa tarefa.
Desde tenra idade, a escola, a agência por excelência do processo de educação, deve, aproveitar todas as ocasiões para uma dupla aprendizagem: por um lado, transmitir conhecimentos sobre a diversidade de espécie humana e, por outro lado, levar as pessoas a tomar consciência das semelhanças e da interdependência entre todos os seres humanos do planeta.
Na nossa sala de aula, quantas vezes nos deparamos com acontecimentos completamente imprevistos? Quantos alunos insistem em permanecer diferentes? Quantos planos não resistem ao quotidiano? Quantas vezes nós mesmos nos surpreendemos com nossas próprias atitudes? Como educadores, quantas vezes criamos na sala de aula e nos surpreendemos com o que falamos e fazemos! E quantas vezes estimulamos nossos alunos para criar, e eles nos mostram uma capacidade desconhecida! A novidade pode nos empolgar, nos estimular, nos entusiasmar, fazendo com que o quotidiano ganhe um novo significado.
Passando a descoberta do outro, necessariamente, pela descoberta de si mesmo, e por dar à criança, ao adolescente e também ao adulto uma visão ajustada do mundo, a educação intercultural, seja ela dada pela família, pela comunidade ou pela escola, deve antes de mais nada ajudá-los a descobrir-se a si mesmos. Só então poderão, verdadeiramente, pôr-se no lugar dos outros e compreender as suas reacções. Desenvolver esta atitude de empatia, na escola, é muito útil para os comportamentos sociais ao longo de toda a vida. Mostrando às crianças, aos jovens e adultos as perspectivas dos outros grupos étnicos ou religiosos podem evitar-se incompreensões geradoras de ódios e violência.


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 123
Ano 12, Maio 2003

Autoria:

José de Sousa Miguel Lopes
Univ. do Leste de Minas Gerais, Brasil
José de Sousa Miguel Lopes
Univ. do Leste de Minas Gerais, Brasil

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