Na escola ?A Ribeirinha? comer sopa não é castigo (mas nem
tudo são rosas no esforço por uma dieta saudável)
Na Escola Básica 2,3 ?A Ribeirinha?, em Macieira, Vila do
Conde, há um projecto alimentar com princípio meio e fim que envolve alunos,
professores e pais. Tudo começou no ano lectivo de 2001/2002 quando uma nutricionista
apareceu na escola com umas ideias sobre alimentação escolar. O conselho executivo
deu-lhe ouvidos e os professores aderiram.
Pouco a pouco o projecto de educação alimentar na escola ?A Ribeirinha? foi
dando frutos: a cantina ganhou novo ar, as funcionárias perceberam a importância
do uso da touca, as capitações de legumes nas ementas aumentaram, o sal e o
óleo diminuiram, os alunos deixaram de se empurrar na fila e os pais quiseram
pôr os filhos a comer diariamente na escola. Mas a coisa não ficou por aqui.
A escola organizou feiras alimentares, colóquios sobre alimentação saudável
para os pais e até recriou a roda dos alimentos ao vivo. Aproveitando o facto
da escola estar inserida numa zona rural, alguns alunos chegaram mesmo a trazer
animais de casa.
É com orgulho que António Emanuel Gouveia fala destas actividades e sublinha
a importância da integração da ?Ribeirinha? na Rede de Escolas Promotoras de
Saúde. O professor de Matemática e Ciências da Natureza é um dos impulsionadores
do projecto alimentar apresentado no colóquio sobre ?Alimentação na Escola?,
organizado pela Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação, da Universidade
do Porto, no âmbito da celebração do Dia Mundial da Alimentação (16 de Outubro).
O envolvimento dos alunos na sua própria educação alimentar é uma das chaves
do sucesso deste projecto. Exemplo disso é o trabalho desenvolvido na cantina
por grupos de alunos voluntários. As tarefas vão desde o fiscalizar a fila,
para evitar a confusão, ao aconselhamento alimentar. ?Às vezes há alunos que
não pegam na sopa e os voluntários vêem e perguntam: porquê que não comes só
um bocadinho??, conta António Emanuel Gouveia. No fim os alunos acabam por fazer
a vontade ao voluntário. O professor conta já com 150 voluntários inscritos,
provenientes do 5º, 6º, 7º e 8º ano, para supervisionar os cerca de 370 almoços
servidos diariamente.
No entanto, as limitações físicas da cantina tornam necessária a criação de
um espaço alimentar alternativo. Por isso a escola equipou o bufete com um balcão
frigorífico. Mas para António Gouveia o mais difícil é renovar a oferta alimentar
do bufete: ?Se pedimos aos fornecedores flocos de cereais em caixas individuais,
eles não têm. É preciso andar à procura. Mas se telefonamos a pedir bollycaos,
no dia seguinte eles já lá estão.? Além disso, ter sandes de carne assada com
alface e tomate em pão integral no bufete é muito mais caro do que ter a mesma
sande em pão ?normal?, acrescenta o professor.
Enquanto escola promotora de saúde, ?A Ribeirinha? recebe uma verba anual do
Ministério da Educação (ME) que pode ir de mil a dois mil e quinhentos euros.
?Mas nunca sabemos ao certo quanto é que nos vão dar?, explica o professor.
Por isso a escola primeiro investe e depois fica à espera. Esta verba já serviu
para a compra de um balcão frigorífico e para a renovação do bufete.
Apoios à parte, a promoção da educação alimentar passa sobretudo pela boa vontade
dos professores que dão corpo às iniciativas. António Gouveia sente que é preciso
muito investimento pessoal e acusa o ME de não compensar o esforço dos promotores.
?Acho que estes projectos mereciam ter um crédito horário superior.? António
Gouveia fala por experiência própria. Acumula as horas que dispõe para a coordenação
dos directores de turma com as da coordenação do projecto escolas promotoras
de saúde e consegue sete horas para gerir tudo e todos. Mesmo assim, desabafa
António Gouveia, ?é claro que depois tem de haver trabalhos de casa.?
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