Estamos, do ponto de vista tecnológico, na era da Informática,
mas em se tratando de educação de valores, ainda estamos na Idade Média. Reproduzindo
a cosmovisão dos nossos ancestrais, continuamos a não respeitar as diferenças
de sexo, cor e até de ideologia. Proponho, aqui, uma reflexão sobre o papel
dos educadores na reversão do preconceito sexual na escola.
Em se tratando de civilização brasileira, avançamos muito pouco com relação
às ideias sobre corpo, alma e sexualidade inculcadas no século XVI. A situação
é ainda mais acentuada quando fazemos referência às questões de ordem sexual
no âmbito da educação escolar.
Este tema é, em geral, visto com olhar enviesado, estreito, apesar da sociedade
democrática ter escolhido, a partir do século XVIII, as instituições de ensino,
em todos os níveis, para acolher as grandes questões que inquietam o meio social.
A homossexualidade é tema que educadores, sejam diretores, coordenadores ou
professores, com ou sem pós-graduação, fazem questão de silenciar. Nós evitamos
comentar o assunto. Ignoramos as crianças e adolescentes com tendências homossexuais
e ficamos torcendo, de forma inóqua, que no futuro, isto é, na fase adulta,
os homossexuais mudem de opção sexual.
Na media, quando o tema é levantado, a intenção é gerar polémica. Em um programa
televisivo, em rede nacional, o carismático Marcelo Rossi (o padre pop) ao ser
indagado sobre o que pensava sobre homossexualidade, simplificou em dizer se
tratar de doença, o que acabou por provocar ação judicial impetrada por entidades
gays do país.
Não há de ser oportuno, no âmbito da educação escolar, uma reflexão sobre o
assunto? Por que a escola não é lugar para respeitar as diferenças sexistas?
Poderíamos continuar indiferente à problemática da sexualidade. Diriam, assim,
alguns educadores: `` Se não sou homossexual, o que tenho a ver com os que o
são?. Exatamente, por termos nossa opção sexual resolvida, devemos ter uma preocupação
com aqueles que, sendo crianças ou adolescentes, estão se definindo sexualmente
para a vida.
Ao fazer referÍncia às escolas públicas, essa questão da homossexualidade sofre
com um preconceito muito acentuado. Ao fazer referência às escolas privadas,
pouco se discute, pouco se fala, pouco se reflete, gerando, não poucas vezes
comportamentos sutilmente agressivos de professores com relação aos alunos homossexuais,
sejam meninos ou meninas. Nas escolas privadas, aceita-se o matriculado, mas
não se tolera o educando com tendência homossexual. A diferença entre escola
pública e privada, nesse particular, é que, naquela, não há o princípio de tolerância.
Para algumas escolas conservadoras, não há diferença entre o aidético e o homossexual:
todos sofrem com o preconceito social.
Começo por lançar algumas propostas de reversão desse preconceito: primeiramente,
aponto quem considero responsável pelo preconceito contra os homossexuais no
século XX: o Estado. Explico: o Estado tem contribuído nos avanços culturais
com relação à questão da sexualidade e às reivindicações das massas, mas esses
avanços foram mais em termos de discurso jurídico e esvaziado de praxis. O Estado
promoveu iniciativas judiciais em favor das minorias de cor, de sexo ou de raça,
todavia chegamos ao final do século XX, com muita cerimónia na discussão sobre
sexualidade, sobretudo sobre sua faceta homossexual.
Neste século XXI, creio que o Estado, através de uma Constituinte Planetária,
deverá revelar e consolidar os valores éticos e morais da nova sociedade informática,
a começar pela própria América Latina. Revisando, assim, através de uma democracia
direta (via Internet), a longa tradição secular e jurídica de dissimular a diversidade
de comportamento sexual, de modo a fazer, abertamente, a judicialização da sexualidade
humana. Espero que nos próximos dez anos, o Estado nacional venha a determinar,
juridicamente, que a homossexualidade não é uma inversão ou doença, como julgam
alguns párocos e educadores mais duros, mas uma opção sexual. Em substância,
no século XXI em construção, a homossexualidade não será tabu.
(...) Reconheço que o tema merecerá maior reflexão, razão pela qual ei-lo como
proposta de fórum permanente, tema recorrente, para apreciação e julgamento
dos inquisidores da moral e dos bons costumes.
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