Para redigir este pequeno texto tive de interromper a correcção
de um teste de avaliação de uma turma do 12º ano. Tenho em lista
de espera as provas globais das minhas duas turmas de 10º ano e a preparação
urgente de uns quantos esquemas e textos que permitam acabar a leccionação
dos conteúdos para o exame de 12º ano das duas turmas que lecciono. Realizado
este, espera-me a tarefa da correcção de exames.
Portanto, e atendendo a esta conjuntura pessoal, só
posso responder negaivamente à pergunta: a Revisão Curricular
do Ensino Secundário, nomeadamente no que respeita à avaliação
das aprendizagens é urgente e necessária. Só quem nunca
viveu os meses de Maio e Junho numa grande escola secundária com programas
para concluir, matrizes e provas globais para elaborar e depois corrigir, exames
nacionais para preparar e corrigir pode defender a manutenção
da actual situação.
A avaliação das aprendizagens proposta nos artigos
10º e 11º do Decreto-Lei nº7/2001 é, a meu ver, sensata e positiva para
alunos e professores: as provas globais só se realizam no ano terminal
das disciplinas, os alunos do 12º ano só serão sujeitos a exame
nacional a três disciplinas nos cursos gerais e a duas nos tecnológicos,
o 10º ano terá uma etapa inicial de diagnóstico, consolidação
e possível reorientação, o primeiro momento de avaliação
do ano lectivo terá um carácter qualitativo, assim como o terceiro,
mantendo-se a classificação quantitativa no segundo e no quarto.
É evidente que a Revisão Curricular do Ensino
Secundário não é só isto e aspectos há sobre
os quais se desconhecem as opções finais. Como as soluções
a adoptar não constam do Decreto-Lei atrás referido, só
posso exprimir a minha posição.
Quanto aos programas, considero que devem perder o seu carácter
enciclopédico, expresso em intermináveis listas de conteúdos.
Devem prever o desenvolvimento de competências de pesquisa e produção
pessoal. Reconheço algum esforço nesse sentido no que respeita
às versões dos programas da minha área ? História
? já divulgadas, mas ficam ainda muito aquém do que entendo desejável.
Já manifestei neste jornal a minha discordância
quanto à multiplicação dos cursos gerais e tecnológicos,
logo no 10º ano, prevista nas anteriores propostas do Ministério da Educação.
Julgo que, tendo em conta as muitas opiniões que li, a minha posição
é minoritária e vamos mesmo ter, a meu ver mal, uma especialização
precoce das formações secundárias.
Subsiste a incerteza sobre os mecanismos de permeabilidade
entre os cursos gerais e tecnológicos. Sendo este um ponto crítico
importava saber quanto antes o que o Ministério prevê. O mesmo
se pode dizer da reorganização dos grupos de docência.
Parece-me muito positiva a possibilidade de as escolas poderem
apresentar propostas de criação de cursos tecnológicos
e de ajustamentos aos existentes. Só espero que a administração
regional coopere.
Também se desconhecem ainda os planos definitivos dos
diferentes cursos. Começa a ser muito tarde para uma cuidada preparação
das escolas e dos professores.
Por tudo o que atrás aduzo, e apesar das indefinições
sobre aspectos cruciais que urge definir, defendo que se deve manter o início
da aplicação da Revisão Curricular do Ensino Secundário
no ano lectivo 2002-2003. Ouso mesmo sugerir que a supressão das provas
globais em anos não terminais devia entrar em vigor já no próximo
ano, assim como exames nacionais de 12º só a três disciplinas.
E agora vou retomar a correcção dos testes do
12º ano, para depois continuar com a das provas globais do 10º e com tudo o
resto que actualmente se pede a professores e, sobretudo, alunos do secundário
e que é manifestamente excessivo. Tempo para pensar a escola à
luz do novo Decreto-Lei com os meus colegas e diferentes órgãos
de gestão é que não vou ter tão cedo.
Paulo Melo
Escola Secundária da Maia
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