Uma verdadeira viagem pelo mundo do Teatro é o que promete a primeira edição do PO.N.T.I. (Porto.Natal.Teatro.Internacional), um festival internacional promovido pelo Ministério da Cultura e organizado pelo Teatro Nacional S. João, em colaboração com a Câmara Municipal do Porto. De acordo com a promoção, passarão por cinco palcos da cidade (Alfândega, Balleteatro, Carlos Alberto, Rivoli e S. João) 13 'espectáculos de grande diversidade cénica' incluindo algumas das tendências do teatro português e três recitais, num total de 36 apresentações distribuídas ao longo de 19 dias (3 a 22 de Dezembro). Pretendendo reflectir o espectro artístico que, actualmente, se manifesta pelos palcos do mundo - e que, de acordo com Ricardo Pais (director do festival), se no sentido do 'retorno ao texto mais denso' ou das grandes rupturas - o PO.N.T.I./97 apresenta uma programação onde essas duas práticas se manifestam, por exemplo nas encenações de Stéphane Braunschweig ('Measure for Measure', de Shakespeare) e Robert Lepage ('Las Agujas y el Opio'). 'De um ao outro lado deste largo e diversificado espectro', como se pode ler no programa do festival, o público portuense poderá assistir, entre outros, à revelação do surpreendente lituano Eimuntas Nekrosius, que traz uma versão alucinada de 'As Três Irmãs' (Tchekov), ou à revisitação de Hamlet numa perspectiva das novas tendências ('Amleto', de Romeu Castellucci). Interessante será, também, apreciar o resultado da produção conjunta do Teatro Nacional S. João e do Círculo Portuense de Ópera. 'Cocteau.Gémeas' é um tipo ë2 em 1í. por um lado, a versão operática de 'A Voz Humana' (Francis Poulenc, James Conway); por outro, 'O Belo Indiferente' (encenação de Nuno Carinhas). 'Foi a primeira coisa que quisemos trazer a este festival', revela Ricardo Pais, referindo-se à obra maior dos napolitanos Teatri Uniti - 'Rasoi', de Enzo Moscato, com encenação de Toni Servillo e Mario Martone. Em destaque na programação, 'Rasoi' 'faz aquilo que o Porto poderia fazer sobre si próprio', adianta o director artístico do PO.N.T.I., acrescentando que o espectáculo 'toma as peculiaridades de Nápoles, a sua especificidade antropológica e urbana, e parte daí para fazer uma coisa que se transforma num mecanismo identitário'.
Ilustrando as tendências do teatro português, Luís Assis assina o texto, a encenação e a cenografia de 'Peep-Show', um exercício pirandelliano do quotidiano, para o qual são convocadas três personagens: 'uma mulher atormentada por uma violação, um velho executivo lutando com a concorrência de sangue jovem e uma voluntária de uma linha de ajuda a suicidas'. O Colectivo OLHO, por sua vez, apresentará a primeira parte de um tríptico ('Muda') que narra a história de um personagem que morre três vezes e outras tantas ressuscita. Começando com 'O Meio', o projecto completar-se-á, em 1998, com 'O Lado Direito' e 'O Lado Esquerdo'. Revisitar a temática fundamental de Antonin Artaud, apondo-lhe uma linguagem dos anos 90, é a proposta do Artaud-Estúdio - 'Cenas da Crueldade Ocidental' (Paulo Filipe) -, enquanto Maria Emília Correia aposta no universo poético de Mário Cesariny, apresentando uma polémica ëfantasia cénicaí: 'O Gato que Chove'. Ainda navegando no cosmos da Poesia, a Companhia de Teatro de Braga propõe 'Póquer na Jamaica' (Evelyne Pieiller), com encenação de António Durães. Finalmente, os três recitais: Ingrid Caven recria o ambiente dos cabarés berlinenses, cantando Fassbinder (com quem esteve casada), Joyce, Wilde, Cage, Weil, entre outros; Eartha Kitt apresenta o seu último disco ('Back in Business'), trazendo ao Porto o brilho da Broadway e o fumo dos casinos e clubes de jazz nova-iorquinos; 'Músicas para Vieira' é o projecto de Egberto Gismonti, que reúne as palavras do padre António Vieira com uma certa memória musical do Brasil. O preço dos ingressos oscila entre os mil escudos e os 2.500$00, conforme os espaços em que decorrem os espectáculos - a frequência regular do festival (Passaporte PO.N.T.I.) permite, contudo, reduções significativas: 20% no segundo espectáculo; 30% no terceiro, 50% no quarto e acesso gratuito a partir do quinto bilhete adquirido. Entretanto, os menores de 26 anos e os deficientes (acompanhados) beneficiam de uma redução de 900$00; os portadores de Cartão Jovem e os maiores de 65 anos têm 50% de desconto; as escolas e os grupos beneficiam de descontos de 800 e mil escudos, respectivamente.
António Baldaia
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