Sem meias culpas, os jornais, as rádios e as televisões noticiaram o chamado crime de Amarante: 13 adultos assassinados, num bar de "alterne", isto é, num bar que não é bem um bar de meninas, num bar que é apenas um bar de meias meninas. Talvez por isso, houve uma indignação geral que não foi bem uma indignação geral: foi meia indignação sem chegar a ser revolta. Afinal morreram algumas meias meninas, e alguns dos seus meios maridos e, também, alguns dos seus meios clientes... Os jornais, as rádios e as televisões fartaram-se de explicar a situação. Nestes meios marginais da noite (droga, prostituição, etc, etc, etc...) há quem morra de morte não natural, isto é, há quem morra assassinado. Por questões de negócios pouco claros... Tantas mortes ao mesmo tempo é que não era costume... Dez dias depois, mas ainda em Abril, a polícia prendeu sete suspeitos... Ficou o país meio descansado. Os autores da chacina - dos mandantes aos operacionais, passando por alguns colaboradores cúmplices - "foram dentro", garantiu a polícia, cuja acção foi tão espectacular que até deu para convocar conferência de Imprensa em manhã de Domingo. Dias antes, na nova ponte (em construção) sobre o Tejo, uma falha técnica, acidente mais tarde atribuído a um erro humano, causou a morte a seis operários. As obras da Ponte Vasco da Gama alcançam, assim, o top no que respeita a acidentes de trabalho, num país onde a construção civil é recordista em sinistralidade laboral. Na TAP, o 25 de Abril comemorou-se em terra: os pilotos fizeram greve. Em resposta, a Administração da empresa fez publicar anúncios em tudo quanto era meio de comunicação de massas nada simpáticos para a imagem dos grevistas. Segundo os anúncios publicados (às meias páginas e aos meios minutos), a transportadora e os contribuintes terão perdido mais de um milhão de contos nos dois dias de greve dos pilotos. E tudo porque estes não quererão voar como os demais pilotos europeus... Mais de um milhão de contos.... De menos de um milhão de contos foi o aval dado pelo Governo à UGT. Esta simpatia governamental provocou o barulho que se sabe e agitou uma central sindical que perderia, neste Abril, a influência detida num dos mais fortes sindicatos do país, o dos Bancários do Sul e Ilhas. Em matéria de avales o mês foi mau para o Governo: Bruxelas considerou ilegal a operação de 30 milhões garantida à EPAC (cereais). Trinta milhões, trinta dinheiros. Trinta milhões é quanto o Estado anunciou ir investir, a médio prazo, no apoio ao livro e à leitura. 30 milhões, sendo 15 do Poder Central e outros 15 do Poder Local. Muito menos terá sido o montante do suborno ensaiado contra um juiz que terá recebido 7.500 contos para encaminhar determinado processo num determinado caminho mais favorável ao arguido. Por falar em livros. Pepetela, escritor angolano, venceu o Prémio Camões 1997. O voto foi unânime e partiu de um jurí onde só têm assento portugueses e brasileiros: Alçada Baptista, Óscar Lopes, Fernando Martinho, Carlos Nejar, Eduardo Portela e Nélida Pinon. O prémio foi anunciado, em Lisboa, em conferência de Imprensa em que participaram os ministros da Cultura de Portugal e do Brasil. No outro hemisfério, no Peru, o exército de Fujimori, com o próprio Fujimori, de colete à prova de bala, a dirigir as operações, entra na Embaixada do Japão em Lima, liberta os 72 reféns que um comando Tupac Amaru detinha desde Dezembro e executa os 14 guerrilheiros, ao que tudo indica, por testemunhos de alguns dos reféns, sem que estes estivessem armados ou a resistir. Mario Soares referiu-se ao feito como uma acto de "terrorismo de Estado". Ainda a Sul, milhares de camponeses do Movimento dos Sem Terra chegaram a Brasília, um ano depois do massacre do Carajás do Eldorado. A marcha pela Reforma Agrária conta com uma enorme solidariedade internacional e visa a ocupação de terras votadas ao abandono pelas grandes latifundiários brasileiros, objectivo em parte já aceite e admitido pelo próprio Governo. JR
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