Tome três canções de Ray Charles, podendo ser 'I got a Woman', 'Whatíd I Say', 'I Believe to My Soul'; junte-lhes a silhueta de Nina Simone (olhe bem para ela): escolha 'I Loves You Porgy' e ainda 'Black is the Color'. Em seguida acrescente B.B. King e um pouco de Tina Turner. Deixe em cozedura, a gosto. Pegue no texto que se segue e leia as instruções: 'O blues diz a separação, e que o mundo é o lugar imediato em que ela se efectua. Se o faz com tamanha justeza e rigor é porque foi elaborado através de uma experiência colectiva de deportação, exílio, escravatura... No entanto a melopeia do blues não exprime simplesmente o 'estou ali' da separação. Infinitamente renovável, a sua sequência harmónica passa por uma curta fase de dois compassos em que se esboça um alegre élan, uma esperança de reconciliação. A melopeia do blues estabelece de uma ponta a outra por encadeamento de um jogo de tonalidades, um 'clima' de incerteza e de equívoco entre abatimento, esperança ou revolta e resignação, mas também uma espécie de movimento circular em que cada estado aparece como uma consequência do que o precedeu, e causa do que se segue. Assim, por um carácter específico e por assim dizer, dialéctico, o blues escapa à fatalidade em que parece fechado...'
(Jacques Réda, Poeta)
Junte tudo e leve ao forno. Sirva-se no próprio dia e sirva no dia seguinte aos convidados. Como complemento pode ainda promover um pequeno debate sobre minorias e segregação racial e cultural. Boas férias
Guilhermino Monteiro
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