Abro o jornal de Domingo 17 de Novembro e duas notícias saltam-me à vista: 1ª. Toulon - um Tribunal de primeira instância condenou dois músicos de RAP a três meses de cadeia e à proibição de actuarem durante seis meses. A acusação foi feita por vinte e seis polícias que "se sentiram ultrajados" porque uma música do Grupo NTM (Nique Ta Mère) - literalmente, "fode a tua mãe" - que apresentava a corporação como "verdadeiro bando organizado e hierarquizado" de "retardados mentais". Como sublinhou Henri Leclerc, Presidente da Liga dos Direitos do Homem, no Tribunal "o que se jogou foi o retorno a uma ordem moral". 2ª. Nápoles - 18 conselheiros municipais da totalidade do espectro político italiano (desde da Aliança Nacional à Refundação Comunista passando pelos Ecologistas e Liberais) aprovaram uma moção contra a exibição de "Crash" de David Cronemberg adaptação de um romance de Ballard. Acompanhando tal moção a Procuradoria da cidade exigiu o visionamento do filme para verificar a necessidade de o censurar. Renato Nicolini em "Il Manifesto" definiu tudo isto como "testemunho de uma brutal censura". Miguel Portas no "JÁ" de 21 de Novembro foi mais longe: "a censura é sempre o "braço armado" da ordem moral" "e mais à frente "porque é evidente a "crise moral" da nossa civilização e maior ainda o desgoverno das nossas cabeças. Ou simplesmente porque é evidente a nossa "crise de civilização", a justiça não lhe é imune e pesa mais sobre as nossas cabeças o "valor do seguro" do passado do que a descoberta do futuro". Tudo isto me fez lembrar pessoas que conheci. Umas ainda andam por aí, à descoberta do tal futuro, outras ... desistiram. Outras morreram. Especialmente para estas últimas aqui fica o poema de W. H. Auden citado no filme "4 casamentos e um funeral" de Mike Newell: "Funeral Blues" Parem todos os relógios, desliguem o telefone, Não deixem o cão ladrar aos ossos suculentos, Silenciem os pianos e com os tambores em surdina Tragam o féretro, deixem vir o cortejo fúnebre. Que os aviões voem sobre nós lamentando, Escrevinhando no céu a mensagem: Ele está Morto, Ponham laços de crepe em volta dos pescoços das pombas da cidade, Que os polícias de trânsito usem luvas pretas de algodão. Ele era o meu Norte, o meu Sul, o meu Este e Oeste A minha semana de trabalho, o meu descanso de Domingo, O meio-dia, a minha meia-noite, a minha conversa, a minha canção; Pensei que o amor ia durar para sempre: enganei-me. Agora as estrelas não são necessárias: apaguem-nas todas, Emalem a lua e desmantelem o Sol; Despejem o oceano e varram o bosque; Pois agora tudo é inútil. Paulo Teixeira de Sousa
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