1.O "Círculo de Leitores" editou recentemente "O Cinema Sob o Olhar de Salazar " uma colectânea de textos com coordenação de Luís Reis Torgal. Do livro fazem parte textos de - António Pedro Pita ("As ideias das imagens") , Luís Reis Torgal ("Propaganda e "Educação Popular" "), Heloísa Paulo ("Documentarismo e Propaganda. As imagens e os sons do regime"), Alberto Pena Rodriguez (" O cinema português e a propaganda franquista durante a Guerra Civil de Espanha "), Cristina Barroso (" A campanha Nacional de Educação de Adultos e o Cinema" ), Paulo Jorge Granjo ("A comédia à portuguesa, ou a máquina de sonhos a preto e branco do Estado Novo"), Álvaro Garrido ("Coimbra nas imagens do cinema do Estado Novo"), Jorge Seabra (" Imagens do Império. O caso "Chaimite"), Paulo Filipe Monteiro (" Uma margem no centro : a arte e o poder do "novo cinema" ", Fausto Cruchinho ("O Conselho de Cinema. Notas sobre o seu funcionamento") e José Matos Cruz ("Breve dicionário tipológico do cinema do Estado Novo"). "O Cinema Sob o Olhar de Salazar " é evidentemente uma metáfora persuasiva que suscita de imediato algumas perguntas: Será que Salazar era um cinéfilo? E, se ia ao cinema que filmes via? Como? Onde? Na introdução ao livro, Luís Reis Torgal cita António Lopes Ribeiro : "Salazar era um cinéfilo... Ele não tinha tempo para ver os filmes estrangeiros, mas os portugueses viu-os todos .E viu porque queria ver. ". Não se referindo nunca à sua sensibilidade mas ao seu "impressionante poder de observação" que o terá levado a notar que António Silva tinha "as mãos finas demais" para ser ferrador - referindo-se concerteza à personagem de João Cruz de "Amor de Perdição"- ou para perguntar a Leitão de Barros " porque é que Inês de Castro tinha o mesmo vestido quando foi baptizada e depois quando foi entronizada."(sic). De qualquer maneira o cinema esteve sempre "sob o olhar de Salazar" não só em termos de produção , mas também de exibição, de protecção a "um certo tipo de filmes", como de censura relativamente a alguns e até de indiferença no que se trata a outros. Esse "olhar" não era de forma directa, mas através de entidades próprias e de pessoas "certas". A escolha do jornalista, escritor, cinéfilo e intelectual António Ferro para o Secretariado de Propaganda Nacional e, depois para o Secretariado Nacional de Informação - o famigerado SNI, mostra que Salazar apesar do seu propagandeado ruralismo, soube entender as virtudes "públicas", ou "políticas", dos meios de comunicação, antigos e modernos , como a literatura, o panfleto, o cinema ou a rádio, que pôs a funcionar, de forma regular, em 1935.(Torgal, 2000). 2. Em Outubro saiu o nº 550 dos "Cahiers du Cinéma", com uma nova face. Pouco antes de completar 50 anos (já?) em Abril de 2001 o "acaso" fez aparecer esta nova fórmula em Outubro "mês que como se sabe é próprio a revoluções". Uma experiência a acompanhar. Este número tem vários motivos de interesse: um "dossier" Tod Browning, uma entrevista de grande fôlego a Maurice Pialat e... o regresso do celebérrimo "Conseil des dix" inventado Jacques Doniol-Volcroze há... inúmeros anos. O "Conseil des dix" reaparece « com o seu espírito ; não um julgamento crítico mas um conselho ( avisado ) para o leitor". Compõem-no cinco críticos da redacção e cinco convidados. "espera-se que o leitor seja capaz de fazer aliança com o amigo-crítico que lhe quer bem. Isso existe..."
Paulo Teixeira de Sousa Escola Secundária Especializada de Ensino Artística de Soares dos Reis P.S. A pedido do Ricardo. "Branca de Neve" é um filme, quem quer, vai ver... quem não quer, não vai. Quem vai gosta ou não gasta. E diz... e fala... e critica, etc., etc....mas por amor de...S. Kubrick mas não me digam que ?não se devia deixar fazer filmes assim?... ?os filmes devem ser para o povo ver?.. é "o olhar de Salazar" a espreitar. Lembrem-se do que aconteceu à vanguarda soviética dos anos 30. P.T.S.
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