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e-learning - Vai revolucionar a educação e a formação

(primeiras experiências confirmam vantagens)

Aprender línguas, técnicas de gestão ou mesmo obter uma licenciatura através da internet, começa a ser um cenário possível em Portugal, apesar de o ensino na rede nacional ainda ser uma realidade quase virtual. Uma ideia confirmada pelo director do Centro Multimédia e de Ensino à Distância da Universidade de Aveiro (UA): "O e-learning em Portugal ainda está muito pouco desenvolvido quando comparado com a situação nos Estados Unidos e na Austrália, por exemplo".
Segundo Fernando Ramos, em Portugal, as primeiras experiências-piloto nesta área datam de há 3 ou 4 anos, mas a oferta só começou a ter algum significado há pouco mais de um ano. Actualmente, existem já várias entidades que oferecem formação com suporte na rede, nomeadamente o UNAVE - organismo da UA para a formação contínua -, a PT-Inovação, o Instituto Superior de Gestão ou a Digito Formação, estando em fase embrionária outras iniciativas neste domínio. "Estou firmemente convencido de que esta será uma área que vai explodir a muito breve trecho, o que se traduzirá numa oferta muito variada", declarou Fernando Ramos à agência Lusa.
A UA é uma das entidades mais avançadas em matéria de e-learning, sendo este o terceiro ano lectivo em que proporciona aos seus alunos a possibilidade de acompanhamento de mais de 50 disciplinas através da internet, num programa que abrange cerca de 500 estudantes. No entanto, existe ainda uma forte componente presencial, nomeadamente no momento da avaliação.
Paralelamente, a UNAVE oferece, desde Abril de 1999, um conjunto completo de 15 cursos de curta duração na área das tecnologias multimédia e internet que já foi frequentado por mais de 350 alunos. "Neste programa, o modelo adoptado é totalmente à distância, o que tem permitido ter muitos alunos de regiões distantes de Aveiro, caso, por exemplo, do arquipélago da Madeira, do Brasil e de comunidades de emigrantes em França e Bélgica", explica Fernando Ramos.

Entretanto, foi já criado um grupo de trabalho governamental que deverá apresentar em 2001 as linhas de orientação para a implementação de uma universidade telemática em Portugal. "Vamos disponibilizar cursos on line, gravados, a que os alunos poderão assistir ao ritmo que quiserem", esclarece o presidente da Fundação para a Computação Científica Nacional (FCCN) e gestor do Programa Operacional para a Sociedade de Informação, sublinhando que a ideia é reunir na futura universidade os maiores especialistas do país em cada matéria.
Segundo Pedro Veiga, esta tecnologia de ensino on line em diferido é especialmente indicada para cursos de pós-graduação, mas não rejeita a possibilidade de virem também a ser ministradas licenciaturas, nomeadamente na área das tecnologias de informação e comunicação em que existe actualmente uma grande escassez de recursos em Portugal.
De acordo com o presidente da FCCN, são já muitos os professores universitários que disponibilizam na rede os suportes à disciplina que leccionam, como o programa, a bibliografia e até mesmo os slides que apresentam nas aulas. Alguns, com sucede com vários docentes da Faculdade de Ciências, criaram mesmo um newsgroup onde os seus alunos podem esclarecer as suas dúvidas muito mais rapidamente.
"A grande vantagem do ensino via internet é o grau de flexibilidade que proporciona aos alunos, em particular a flexibilidade temporal e espacial, porque os alunos não são obrigados a um horário rígido nem a deslocar-se a uma sala de aulas", considera Fernando Ramos, apontando a liberdade de cada aluno construir o seu próprio curso como uma vantagem adicional a considerar a curto prazo. Quanto às desvantagens, a principal é exigir do aluno um conjunto de competências sem as quais é difícil ter sucesso, nomeadamente competências pessoais ao nível psicológico e cognitivo: auto-disciplina, motivação, organização e capacidade de aprendizagem/progressão individual.
José Tribolet considera mesmo que o e-learning pode ser a grande oportunidade para revolucionar o sistema de educação e formação de recursos humanos em Portugal. Para o presidente do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores (INESC), "a generalização do ensino via internet pode ser uma espécie de 25 de Abril do sistema educativo português".
Salientando que o processo terá de ser gerido independentemente do Estado ou de interesses corporativos de grupos profissionais, Tribolet acredita que, no prazo de cinco anos, o panorama nacional no sector da educação e formação estará completamente alterado, coexistindo as instituições tradicionais com o ensino através das novas tecnologias. "O que vai mudar é a função das universidades e dos professores, que deixam de ser agentes de ensino para se transformarem em parceiros da aprendizagem".
De acordo com o presidente do INESC, o recurso às novas tecnologias permitirá aos professores disponibilizarem na rede toda a informação necessária às respectivas cadeiras, funcionando as aulas como espaços de discussão. "É um pouco um regresso às origens do ensino, em Atenas", considera Tribolet, sublinhando que o e-learning não desvaloriza o contacto pessoal professor-aluno; pelo contrário, torna-o mais interessante.
Por outro lado, o e-learning poderá fazer baixar os custos do processo educativo e permitirá a qualquer pessoa aprender "o que quer, quando quer e onde quer", independentemente da idade ou local de residência - "o actual modelo de educação e formação não é sustentável nem em termos de custos nem de resultados", sustenta o presidente do INESC, sublinhando que este é "dos principais factores responsáveis pela não convergência de Portugal com os restantes países da União Europeia".


  
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Edição:

N.º 96
Ano 9, Novembro 2000

Autoria:

Redacção

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