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Núcleo Pedagógico - Espaço de Reflexão e Cooperação

Como se sentem os educadores que trabalham nos Jardins de Infância que estão sobre a tutela do Ministério da Educação?
Quais são as suas dificuldades, as suas expectativas e os seus anseios? De que forma obtêm respostas e apoios?
Que realidade temos nós?
As realidades dos jardins de infância são incrivelmente díspares, tanto em espaços físicos como em oportunidades de acção, embora pertençamos todos à mesma rede. O apoio dado pelo Estado é insipiente e reduzido, limitando-se ao envio de duas requisições para compra de material no valor total de 54 contos ano/sala. Estas requisições chegam aos estabelecimentos de ensino completamente fora de horas e são extremamente limitativas para os educadores.
Que fazem então os educadores? "Pedincham"! Para além do trabalho pedagógico que desenvolvem com a comunidade educativa, têm de pedinchar as condições a que têm direito para uma Educação de Qualidade.
A expressão "igualdade de oportunidades" é-nos familiar, mas não é sentida nos nossos locais de trabalho. Vejamos então o que um educador tem de fazer no seu dia-a-dia com um horário de sete horas diárias (cinco de trabalho directo com as crianças): reuniões com pais, reuniões pedagógicas, de núcleo, de agrupamento, reuniões com o conselho consultivo, com a autarquia (câmaras e juntas de freguesia), com a associação de pais,...; Pesquisa e investigação, contactos diversos (para saídas, para arranjos,...), procura e selecção de material diverso e de qualidade para realizar as actividades, preparação de material, preservação das condições físicas dos estabelecimentos de ensino. Enfim, administrar o jardim de infância, contactar instituições do meio envolvente, elaborar projectos...
Que difÌcil se torna! Hoje em dia um educador tem de saber de canalizações, de jardinagem, de pintura, e de tantas outras áreas... Mais difícil ainda é conseguirmos que essas situações sejam contempladas pelos responsáveis. E é aqui que se gasta grande parte do nosso tempo e paciência - a telefonar e contactar e a escrever ofícios que vão parar às gavetas ou perdidos num monte de papel...
Os educadores de infância da rede pública do Ministério da Educação encontram-se, na grande maioria das situações, isolados, em locais de lugar único ou de dois lugares com quilómetros de distância a separá-los. Que espaços de reflexão e de partilha existem para estes profissionais?
As reuniões de núcleo, nunca reconhecidas oficialmente, foram ao longo destes anos esse espaço, por excelência. Mensalmente, os educadores encontravam-se para se conhecerem, trocarem ideias, participarem na vida comunitária. Devido à grande mobilidade destes profissionais a ao constante enquadramento em locais diferentes, a reunião com os colegas era o seu ponto de referência.
O núcleo pedagógico reúne vários educadores de uma determinada área geográfica. Juntos, partilham experiências, reflectem sobre as diferentes realidades, investigam temáticas que os preocupam, elaboram projectos comuns, discutem problemas da sua carreira.
Com o aparecimento dos agrupamentos estamos a assistir ao desmembramento dos núcleos pedagógicos. Não pretendo colocar em questão a pertinÍncia destas associações de escolas, importantes pelo contacto de profissionais de vários graus de ensino, permitindo assim a tão ambicionada sequencialidade.
Mas continuo a considerar de extrema importância a continuidade da existência dos núcleos pedagógicos, como espaço privilegiado de partilha e de reflexão de um grupo específico - os profissionais de educação de infância. Penso até que se deveria valorizar mais estes encontros, dando-lhes novo alento, e que lhes poderia ser atribuída a incumbência de darem rosto às vivências das realidades dos jardins de infância, através de registos sistemáticos, que deveriam ser publicados pelo M.E.

Noémia Peres
Educadora de Infância


  
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Edição:

N.º 94
Ano 9, Setembro 2000

Autoria:

Noémia Peres
Educadora de Infância
Noémia Peres
Educadora de Infância

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