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Liberdade Solidariedade

Quando olho para mim através do espelho que não é lisonjeiro nem deprimente como os das casas de banho, vejo muitos e saudáveis pontos de interrogação que vão acompanhando a minha história de vida. Penso que são o motor da minha construção pessoal e, sobretudo, colectiva.
O nosso Abril, o Abril dos portugueses, este Abril de 2000 projecta no dito ecrã ou espelho duas figuras: a Liberdade e a Solidariedade. À laia de desafio pedem-me que lhes dê a estatura relativa. São tão grandes, uma e outra! E tão nobres!
Naturalmente que é do senso comum que, em dimensão, são incomensuráveis. Apesar disso e, porventura , por isso mesmo, apetece avaliar quantidades qualitativas.
Será que a solidariedade decorre da liberdade? Ou é a liberdade que implica a solidariedade?
A liberdade é o valor/direito humano mais inegável e determinante para o exercício da cidadania. Sem ela não pode ser-se solidário a tempo inteiro? Creio que o sentimento (solidariedade) é uma espécie de variável independente, logo, influencia e não é influenciado. No entanto, as suas manifestações concretas podem ser restringidas por carência de liberdade.
A solidariedade é o gerador a liberdade? Diria: não só, mas também. Basta pensar quanto o unir de mãos, aqui mesmo na nossa terra e no planeta Terra foi vector orientador na senda da liberdade.
Sem estacionar, paremos as conjecturas. Destaquemos dois pequenos grandes "casos". Assunto - campanha de solidariedade "Uma Escola para Timor".

Caso nº 1

Local da acção ? Centro Social do Cerco do Porto - Porto
Actores ? Os meninos e as meninas da sala dos 4 anos
Recolha de fundos ? Redução das despesas em chupa-chupas
Ilustração ? Ao dispor na sede do SPN
Texto ? Bom dia! Nós somos os meninos e as meninas da sala dos 4 anos. Não gostamos da guerra. Somos amigos dos meninos de Timor. E os meninos de Timor estão contentes porque a guerra acabou. Mas nós ouvimos o Xanana na televisão a pedir tintas, pincéis, aguarelas, lápis de cera, giz, lápis de cor e canetas. Para os meninos de Timor Loro Sae poderem brincar, trabalhar e aprender. Então nós juntámos dinheiro para pagar estas coisas para os meninos de Timor. Beijinhos! Quando tivermos mais dinheiro nós mandamos.


Caso nº 2

Local da acção ? Jardim de Infância de Areia ? Mindelo ? Vila do Conde
Actores ? Os meninos e as meninas do Jardim
Recolha de fundos ? Cantar as Janeiras
Ilustração ? Ao dispor na sede do SPN
Texto ? Quero que sejam felizes. Que parem com a guerra. Aos meninos que não têm brinquedos nas escolas, nem livros, nós mandamos umas notas e umas moedas num papel que a Isabel diz que é um cheque, que nós juntámos a cantar as Janeiras.
Quero que tenham muita paz. Quero que parem todas as guerras. E, para que os que os pais morreram que tenham dinheiro para poder comprar comida, e...
que o Xanana, que é um bocadinho velho por causa das barbas, tome conta deles.
Gostava que vocês tivessem casas, brinquedos, uma escola como a nossa, mesas, colheres, guarda-fatos, iogurtes, bolos...
Que tenham muita paz e brinquedos e comida e muitas coisas.
Queria dizer-vos que gostava que tivessem uma casa e um frigorífico para comerem iogurtes e queijo...
Gosto muito de vocês. Eu vi tudo na televisão. Tenho pena que alguns não têm casas, nem pais , nem comida...
Vocês não têm livros, pois não? O dinheiro que mandamos pode ser para comprar... a história dos 3 porquinhos, dos 5 gatinhos e uma das histórias que têm muitas histórias...
Quero que vocês tenham muitos brinquedos... Que não haja mais guerra e que tenham muita paz, só isso...
Sabiam que se houver algum ladrão que estrague as casas todas eu vou aí de avião e peço ao senhor piloto para descer... Quando eu vir os ladrões... eu apanho-os e vocês ficam em paz. Eu sou amigo.
Eu gosto muito de vocês. Quero que tenham muita comida e muitos brinquedos... Brinquem muito. E pronto.
Quero que tenham um quarto para cada um

Quero mandar um beijinho... que não chorem! Não sei, mais nada!
Abriguem-se numa casa se não tiverem casa. Os soldados do Xanana são amigos... peçam a eles...
Com esta leitura vos deixo a pensar no despertar dos mais pequenitos.


Iracema Santos Clara
E.B. 2.3 Dr. Pires de Lima


  
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Edição:

N.º 90
Ano 9, Março 2000

Autoria:

Iracema Santos Clara
Escola E.B. 2/3 Dr. Pires de Lima, Porto
Iracema Santos Clara
Escola E.B. 2/3 Dr. Pires de Lima, Porto

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