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Melhoria da Qualidade nos Percursos do Secundário

A amargura pelo estado a tinha chegado o Ensino Secundário Público, em especial na sua vertente dita Tecnológica, dá lugar à esperança, que não ao regozijo pelas significativas alterações propostas no documento "Revisão Curricular do Ensino Secundário". Realçamos no que entendemos positivo, a existência de duas vias distintas, uma predominantemente vocacionada para o prosseguimento de estudos e uma outra, com um reforço da área tecnológica, destinada dominantemente a uma mais imediata inserção no trabalho, a definição do Secundário como segmento autónomo em oposição à visão de correia de transmissão para o ensino Superior, a existência de um 13º ano proposto como corrector de percursos, o reforço de um ensino experimental , o incentivo à autonomia e a inclusão em todo o Secundário de uma área de Projecto.
As nossas preocupações vão para a indefinição na real equivalência das duas vias. Que pressupostos e de que índole acompanham esta proposta que através de competências, capacidades e atitudes declaram apto a prosseguir o ensino superior, um aluno provindo da via de ensino, e ao contrário é considerado incompetente, inapto ou mesmo incapaz um jovem que tenha frequentado um curso do ensino tecnológico. Só numa perspectiva elitista e "licealista" poderemos encontrar, numa "métrica" de números de horas, tipos de disciplinas, etc, as razões para tais concepções. O pressuposto de que o que é tecnológico, o fazer se opõe ao teórico , ao saber ao saber fazer carece para nós de comprovação. Como entender a proposta do curso geral G2- Ciências e Tecnologias onde é nula a componente tecnológica, quando as saídas preferenciais para o ensino superior são cursos tecnológicos (ex. todas as engenharias). Parece-nos numa era de forte desenvolvimento técnico e científico, que no Ensino Secundário todos os cursos devem incluir uma vertente tecnológica.
Entendemos que por percursos educativos diferentes, um jovem pode adquirir competências, capacidades e atitudes equivalentes. Na área que melhor conhecemos e servimos, a da Electrónica, através de actuações pedagógicas centradas na actividade do aluno, com aprendizagem pela prática e aproximando a tecnologia dos contextos da sua aplicação, estamos certos que estruturas, capacidades operativas e competências são mais eficientemente adquiridas em certas disciplinas/áreas técnicas do que nas disciplinas de formação específica. Parece pois óbvio a necessidade de clarificação da real equiparação das duas vias, ao conferirem, ambas, uma qualificação de fim de estudos secundários. Cada jovem poderá candidatar-se a um curso do ensino superior a que a área que frequentou dê acesso, à sua conta e com riscos próprios.
A permeabilidade entre os vários cursos, permitindo aos alunos a correcção do seu percurso formativo, ao atenuar as diferenças contribuirá para a promoção da igualdade de oportunidades. Será possível e realizável ao nível de cada um dos três anos da aprendizagem, encontrar soluções para mudança entre as duas vias. Pensamos que a existência de um 13º ano, para além da visão elitista de se destinar aos alunos que tendo concluído um curso tecnológico procuram obter as "competências em falta" para acesso ao ensino superior, deve antes ser encarado quer como a possibilidade de obtenção de Diplomas de Especialização Tecnológica através de acções/cursos eminentemente prático/experimentais, qualificantes, oferecidos em sintonia com as necessidades de desenvolvimento científico, tecnológico e empresarial da região quer ainda como preparação tecnológica de base para o jovem que sendo possuidor de um curso geral, ou não quis ou não pode continuar/concluir o ensino superior e pretende desenvolver actividades num contexto empresarial.
Para concluir espero que, com a argumentação da urgência se não perca a oportunidade de reformular o necessário com as soluções adequadas, encontradas através de ampla discussão, tendo sempre em consideração que se não formos céleres, teremos que ser responsabilizados pela manutenção de um sistema inadequado, inapto e sede de insucesso.

António Silva Pereira
Escola Secundária Fontes Pereira de Melo - Porto


  
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Edição:

N.º 88
Ano 8, Fevereiro 2000

Autoria:

António Silva Pereira
Escola Secundária Fontes Pereira de Melo, Porto
António Silva Pereira
Escola Secundária Fontes Pereira de Melo, Porto

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