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Timor Loro Sae Ano 2000

A ONU proclamou o ano que começa como "ANO INTERNACIONAL PARA A CULTURA DA PAZ".
Que seja um ano novo e não só mais outro ano! Se calhar, a designação também teve o seu peso no propósito a que me obriguei no escrito do mês passado, de deixar que se quede em mais sossego o dossier da indignação. Naturalmente que não há força de compromisso, já que, inevitavelmente, não seria honrado.
Aqui vai o exercício, à laia de era uma vez. E o exercício tem nome ? "Nação construída".
O bug anunciado produziu alterações profundas no quotidiano dos terráqueos, com influência directa num ponto lá para o oriente de uma ilha do Oriente.
Acordou a mulher e correu a abrir as janelas da sua casa, sim, imagine-se, da casa dela! Viu como os arbustos, praticamente de geração espontânea e sem mão de jardineiro, estavam cobertos de flores vermelhas, daquelas que lembram sinos que só cantam de alegria. Ata os longos cabelos negros de seda e segura o penteado com duas daquelas flores.
Levantou-se o homem, olhou a companheira, abraçou-a vaidoso e juntos foram acordar os mais pequenos, não fosse dar-lhes o sono e chegarem tarde à Escola. Os olhos da menina brilharam e os dos meninos trocaram "piscadelas". É que para aquela dia, os professores tinham combinado com os alunos aprender coisas fora das salas de aula. E quem não gosta? Quem é?
Lá vai a família toda cumprir o seu dia e, para que bem cumprido seja, os estômagos vão confortados.
O pai já completara a formação académica que tinha interrompido muitos anos atrás por causa de uma guerra que não quis; tantos anos que até os filhos ainda andam a tratar de esquecer o que viram, ouviram contar e viveram por falta de paz. Olhou o relógio. Não era necessário acelerar a passada que a vida é para ser degustada. Ele quer acreditar!
E quer acreditar porque governo e oposição vão desempenhando os respectivos papéis com dificuldades mas com dignidade, coisa que custa muito a aprender.
Depois do trabalho do emprego, ainda lhe vai restar um tempito para o trabalho do prazer. Bem pensado, o primeiro também tinha uma componente compatível com a característica acabada de apontar. Ia pescar, tomava lugar no seu beiro, lançava a rede com efeito semelhante ao das fitas com que as ginastas fazem desenhos no ar.
A família reencontra-se cedo para jantar, porque cada dia começa muito de manhãzinha, enquanto o sol envia os raios com inclinação apetecível par o corpo e para a alma. E cedo também para que haja tempo para falar e escutar. Os pais agradecem aos pais deles terem continuado a expressar-se em português, mas os filhos ainda tinham um campo lexical com nódoas de uma língua estrangeira que lhes fora imposta. Era então ao serão que exercitavam outra língua agora estrangeira mas adoptada por Timor como língua de expressão nacional e oficial: a tal língua portuguesa.
E os amigos portugueses quanto estavam a colaborar no ensino desse idioma! Trocavam saberes, aprendiam coisas, ensinavam outras...
A filha mais nova, como os irmãos, não prescindia do tétum, mas adormecia embalada por "Era uma vez um crocodilo ..." contado em português. E sonhava!
bug?s, amigos, há bug?s!

Iracema Santos Clara
Escola EB 2,3 Dr. Pires de Lima


  
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Edição:

N.º 87
Ano 8, Janeiro 2000

Autoria:

Iracema Santos Clara
Escola E.B. 2/3 Dr. Pires de Lima, Porto
Iracema Santos Clara
Escola E.B. 2/3 Dr. Pires de Lima, Porto

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