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E Viva a Música!

Dizes que sou teu irmão/ afirmaste-me há bocado/ É uma quadra interessante/ A minha mãe era honesta/ dessas coisas num é amante/ Mas por acaso meu pai/ é bastante viajante (Loureiro, Barcelos)
Vamos indo, vamos indo/ enquanto é minha hora/ Ele é o meu irmão mais feio/ que o meu pai fez por fora (Leonildo, Arcos de Valdevez)
Agradece a terra aos céus/ e ele limpou as mãos/ Por acaso tem razão/ por Cristo somos irmãos (Loureiro).

Para quem não saiba, a concertina é um instrumento da família do acordeão, o qual parece remontar a 3000 a.C., descendendo de uma espécie de órgão de boca chinês - o 'sheng' -, pioneiro na utilização de linguetas livres.
Mais recentemente (1821), o alemão Buschann inventou a harmónica e, no ano seguinte, acoplou-lhe um fole e uma série de botões, criando o 'handaeoline', que é tido como o primeiro protótipo do acordeão. No entanto, o primeiro instrumento assim designado e patenteado foi construído pelo austríaco Demian, em 1829. Tratava-se, segundo Mário Correia (editora Sons da Terra), de um instrumento "constituído por um fole unido a uma caixa de madeira com um formato rectangular, a qual continha várias linguetas e apresentava cinco botões" produtores de outros tantos acordes diferentes.
Também em 1829, o inglês Wheatstone registava a concertina. Originalmente de formato hexagonal - ainda hoje considerado o mais elegante -, a concertina é um instrumento essencialmente melódico, uma vez que os botões alinhados em ambas as pegas apenas permitem a emissão de sons naturais (escala diatónica). Estes são produzidos pela vibração de linguetas livres, ou seja, "lâminas de cobre ou aço que vibram livremente, para cima e para baixo, com a passagem do ar", permitindo que cada botão emita a mesma nota quando o fole é aberto ou fechado.
Entretanto, a concertina evoluiu de tal modo que, como refere o editor, se assistiu à constituição de "uma verdadeira família, desde o instrumento agudo piccolo até ao contrabaixo". Por outro lado, "as concertinas apresentam uma estética bem diferente, com linhas de construção alteradas. E mesmo o nome sofreu alterações, uma vez que o povo lhe chamou harmónio - concertina de uma escala e com dois ou quatro registos".
Serve esta incursão às origens de tão popular instrumento para dar conta de uma iniciativa que, apesar de realizada há cerca de um ano, pode agora ser recenseada pelos eventuais interessados na matéria. Trata-se do III Encontro Nacional de Tocadores de Concertina e Cantadores ao Desafio, que o INATEL promoveu em Monção, com o apoio da Câmara Municipal, em Novembro do ano passado, e que reuniu mais de duas centenas de concertinistas e cantadores em desconcertantes despiques e animadas desgarradas.
Se o vereador monçanense da Cultura, Augusto Domingues, não pode esquecer "a alegria nos rostos de uma multidão de gente simples e feliz, a dançar", para quem lá foi expressamente, "era impossível ficar insensível às numerosas rusgas que, durante a tarde e noite, percorriam as ruas e vielas, parando em tascas e tabernas, com as vozes e os foles a fazerem a festa em tons de celebração colectiva".
Daí à edição do registo em formato CD, foi um pequeno passo. Na linha do que vem sendo a política editorial da Sons da Terra, com «Tocadores de Concertina e Cantadores ao Desafio: III Encontro Nacional, Monção 98» pretende-se, sobretudo, documentar e estimular "a continuidade expressiva dos tocadores de concertina e dos cantadores ao desafio".
E, de facto, se assim não for, como recordarão os vindouros estas verdadeiras pérolas do repentismo dos seus avós?

Olha bem pr'este corpinho/ ouçam bem rapaziada/ o Pinto p'ra esta mulher/ ò povo, não chega a nada (Camila, Galegos)
Vou pegar na tua deixa/ Colega tem paciência/ tu estás a ficar magra/ Põe-t'à tabela co'a potência/ qu'eu vou tomar o viagra (Pinto, Canelas)
Vocês ouviram muito bem/ aquilo que o Pinto dize/ S'ele tomar o viagra/ o que mais cresce é o narize/ Porque o que pertence crescer/ ouve bem, ò rapaz/ tu bem a procuras/ mas ela foge-te lá para trás (Camila).
Tem vergonha rapariga/ em frente a tanta gente/ A potência qu'o Pinto tem/ camarada é na frente... (Pinto).

António Baldaia


  
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Edição:

N.º 83
Ano 8, Setembro 1999

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