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Sei, talvez saiba, não sei

(Uma revisitação às memórias de infância na formação do educador)

Educar é antes de tudo falar em paixão. Sentir a dor expressa na tristeza pelas condições de vida da população e vivenciar a alegria da conquista de novos espaços. É poder dialogar, mostrar as emoções, os sentimentos e as lutas.

Copiar três vezes no caderno.
Eu sei, eu sei, eu sei, eu sei
Eu sei, eu sei, eu sei, eu sei
Eu sei, eu sei, eu sei, eu sei

Que me deu esperança de renovar uma realidade, ou melhor, transformando algo que aparentemente já está destinado a frases e praticas concretas. Eu sei ...

Na emoção das descobertas, surgem as duvidas e as certezas em relação à intencionalidade do momento. A busca por uma acção coerente reflecte o desejo pela definição de uma política de formação em serviço do professor que traduza os anseios dos cidadãos. É através da satisfação dessas necessidades que o sujeito vai aos poucos, conquistando a sua identidade pessoal e profissional.

Além de enxergar, o mais importante é ver, interpretar, fazer relações com o seu, o meu cotidiano.

Copiar três vezes no caderno.
Talvez eu saiba, talvez eu saiba.
Talvez eu saiba, talvez eu saiba.
Talvez eu saiba, talvez eu saiba.

Em meio a áreas ágeis e criativas, a ansiedade impede muitas vezes a tomada de consciência da realidade. Se por um lado, podemos olhar a função da professora na óptica de tia, por outro há necessidade de um tempo maior para que possamos perceber o profissional do Magistério, enquanto trabalhador. No exercício do prazer, a cumplicidade exerce uma atração que me impulsiona no sentido da troca de experiências. Através de um diálogo ardente, o tempo tem outra dimensão. De maneira integral, a heterogeneidade define os contornos de uma bela relação... Mas, nas vivências do cotidiano, as diferenças individuais geram conflitos e será que o amor resiste a tantos obstáculos ?

Ter esperança é bom, carregar na bolsa uma utopia, nem se fala, mas melhor mesmo é viver o sonho. Mudar junto, esquecer o que sei para aprender o que não sei.

Entre inúmeras contradições, o impulso de viver o desconhecido é mais forte. Nos deparamos com o medo daquilo que não conhecemos, ao mesmo tempo em que presenciamos o renascimento dos valores de nossa infância.

Copiar três vezes no caderno.
Não sei, não sei, não sei, não sei.
Não sei, não sei, não sei, não sei.
Não sei, não sei, não sei, não sei.

O que pode ser se não houver quebra de rotina, se não houver ritmo criador. E se cada um não criar desafios pela curiosidade em descobrir.

Ao recriar as relações entre pais e filhos, o diálogo entre professor e aluno abre as portas de um castelo. Na imensidão desse espaço sombrio, as inter-relações adquirem cor, forma e textura. Num passe de mágica, o funcionário público vira trabalhador.

Quem aprende brincando, também aprende, quem cria-recria e com certeza fica mais gente fazendo a sua história

E não mais que de repente, a compreensão do contexto, através das varias parcerias que são construídas, nos permite encontrar o nosso eu. Num clima de êxtase, o retorno às origens, possibilita outros reencontros. E com o passar dos anos essa paixão se transforma em amor.

Eu vi acontecer exactamente assim, alguém que acreditava em si, passou a desconfiar e até descobriu que não sabia, mas não por uma questão de ver que na vida tem sempre algo a aprender, mas sim por acreditar que da vida nada poderia tirar, pior, era burro!

O compromisso que nos une transcende a concepção do educador, enquanto um profissional abnegado, pois o nosso comprometimento foi gerado a partir de um grande amor. Logo, ao invés de somente dar respostas, gostaria que pudéssemos também fazer indagações e ousar viver, porque quando se tem as respostas às suas perguntas, os questionamentos já são outros.

Sandra Vidal Nogueira
Universidade Federal de Uberlândia / Minas Gerais - Brasil


  
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Edição:

N.º 80
Ano 8, Maio 1999

Autoria:

Sandra Vidal Nogueira
Univ. Federal de Uberlândia, Minas Gerais, Brasil
Sandra Vidal Nogueira
Univ. Federal de Uberlândia, Minas Gerais, Brasil

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